“Fenomenal”. Foi assim que o chefe da Embrapa Mandioca e Fruticultura, Alberto Duarte Vilarinhos, definiu a iniciativa da Associação Brasileira de Produtores de Amido de Mandioca (ABAM) que estuda a criação de um fundo para financiar as pesquisas da cadeia produtiva da mandioca. “Este é um modelo que funciona muito bem em outros países, como nos Estados Unidos e França e é uma tendência mundial”, acrescentou ele.
De acordo com Vilarinhos, os recursos públicos para pesquisa estão cada vez mais escassos e por isso já há algum tempo a unidade especializada em mandioca da Embrapa tem se aproximado e firmado parcerias com entidades como a ABAM e individualmente com produtores. Para ele, o fundo que a entidade pretende criar, beneficiaria iniciativas em desenvolvimento em universidades, na Embrapa, no IDR-PR (que encampou o IAPAR) e outras instituições de pesquisa.
Na sua avaliação, com a criação do Fundo, as pesquisas poderiam ser direcionadas para atender diretamente os interesses da cadeia produtiva. “O poder público tem uma visão mais holística do agro e trabalha para protege-lo. Por exemplo, sem tem uma nova doença em outro país, que pode afetar o setor produtivo brasileiro, o sistema público trabalha para proteger o setor, faz um trabalho mais preventivo”, diz ele.
Vilarinhos reconhece, no entanto, que esta visão do setor público nem sempre atende aquilo que é prioridade e exige uma ação mais rápida da iniciativa privada. Cita como exemplo, o setor mandioqueiro que precisa, com urgência, de uma colheitadeira para reduzir custos de produção e deixar o setor mais competitivo. “Com este fundo, podemos focar naquilo que é mais estratégico e urgente para o setor”, sustenta ele.
Com a iniciativa privada participando do processo, o chefe da Embrapa Mandioca e Fruticultura entende que a pesquisa cumprirá com sua função de melhorar as ferramentas para que o agro continue sendo o sustentáculo da economia nacional. E enquanto a parte da pesquisa será direcionada às necessidades imediatas do produtor, outra parte vai trabalhar nas “oportunidades futuras. Vamos ver o que outros países estão fazendo que está dando certo e no que estão errando”.
MANDIOCA – Lembrando que o setor público, além da escassez de recursos tem outras limitações de ordem burocrática, Vilarinhos aponta que, apesar de todos os esforços, a cultura da mandioca ainda patina em alguns aspectos. “Desenvolvemos variedades mais adaptas ao processo industrial e com maior teor de amido, mas ainda tem o problema da colheitadeira e de distribuição de material propagativo, por exemplo”, aponta.
No entanto, lembra que, em princípio, apesar de um fundo permitir abrir mais frentes de pesquisa, deve-se focar no essencial. “Teremos mais frente de pesquisas, mas elas precisam ser mais rápidas. E tendo o financiamento, isto é possível”, enfatiza.
Para Vilarinhos, o fundo vai preencher uma lacuna do setor. Cita como exemplo a soja e o milho que têm garantido muitas divisas para o país. O grande desenvolvimento que estas culturas experimentaram nos últimos anos é resultado de muita pesquisa. “O número de pesquisadores na soja e no milho no Brasil e no mundo é absurdamente maior que o número de pesquisadores que se dedicam a mandioca. E eles não estão em todos os países, ao contrário das outras culturas. Por isso, as pesquisas de mandioca andam mais devagar, porque o número de pessoas envolvidas é menor. Com mais recursos pode-se ter equipes maiores e os trabalhos serem agilizados”.
E ele faz uma analogia em relação as pesquisas de desenvolvimento da vacina contra a Covid-19. Lembra que uma vacina demorava em média dez anos entre o início da pesquisa até sua produção. “A vacina contra a Covid foi feita em pouco mais de um ano. Por que? Porque tinha muitos pesquisadores envolvidos e não faltou recursos para a pesquisa”, ensina.