A desvalorização do real frente ao dólar com o consequente aumento dos preços de insumos, a alta nos preços dos combustíveis, a falta de mão-de-obra para a colheita e a elevação dos preços de arrendamento das terras têm desestimulado a cultura da mandioca no país. A consequência é que na próxima safra deverá haver uma redução entre 30% a 40% na área de plantio.
Esta situação foi um dos principais temas debatidos na última reunião da Câmara Setorial da Cadeia Produtiva de Mandioca e Derivados. “Nosso produto está muito desvalorizado em relação a outras culturas, como a soja, milho e a pecuária”, diz o presidente da Câmara, Oswaldo Zanqueta. Ele atribui a baixa remuneração ao produtor à atual conjuntura econômica do país. “Não dá para responsabilizar a indústria. Ela também não está conseguindo repassar os custos”, admite ele.
Uma das principais causas da redução na área de plantio é o elevado custo do arrendamento. “Nós estamos competindo com os grãos e com a pecuária, que está tendo uma remuneração melhor e está inflacionando o custo de arrendamento”, explica Zanqueta.
Segundo ele, cinco anos atrás mais ou menos, o arrendatário que ia plantar mandioca pagava ao proprietário entre 15% e 20% da produção, e a recuperação da área degrada, normalmente ocupada por pastagem. Depois, os contratos passaram a ser um custo fixo, que ficou entre R$ 6 e R$ 8 mil o alqueire até dois anos atrás. “Agora estão pedindo entre R$ 10 mil e R$ 12 mil o alqueire por um contrato de dois anos, o que é inviável no atual cenário, com os preços de fertilizantes, adubos e outros insumos subindo acompanhado o dólar, o mesmo acontecendo com os combustíveis. Para agravar, as condições climáticas têm derrubado a produtividade. Onde se colhia entre 80 e 90 toneladas por alqueire, a média caiu para 60 toneladas”, aponta.
ALTERNATIVAS – Este cenário, no entanto, não desestimula o presidente da Câmara Setorial. Na avaliação dele, os problemas existem, mas há alternativas para contorna-los. Algumas destas alternativas serão discutidas na próxima reunião da entidade, que reúne representantes de vários setores da cadeia produtiva e de todo o país. Outras já estão em andamento. Entre as que já estão em andamento está a mecanização da colheita. “Não tem mais mão de obra. E, com poucos trabalhadores os preços da colheita ficam inflacionados”, diz Zanqueta.
No ano passado, a Câmara Setorial constituiu um Grupo de Trabalho para desenvolver o projeto de uma colheitadeira da raiz. O GT Colhedeira de Mandioca reúne pesquisadores, professores e técnicos de universidades, institutos e empresas de pesquisas, representantes das indústrias e de produtores de mandioca, entre outros.
Outra alternativa que deve ser estimulada já a partir da próxima reunião da Câmara é o plantio direto e a integração com lavoura e pastagens. Este sistema já está bem consolidado no Paraná e Mato Grosso do Sul e agora a ideia é disseminar esta prática conservacionista, de sequestro de carbono, permitindo, inclusive, ganhos econômicos e financiamento com prazos mais longos.
“Precisamos também rever o prazo dos contratos de arrendamento, normalmente de dois anos apenas. Ninguém vai investir numa terra que vai entregá-la em dois anos”, diz. Ele reclama que outras culturas têm tratamento diferenciado no processo de arrendamento. “Na soja, no milho, por exemplo, nem chegam a pagar o primeiro ano de arrendamento. E a gente pega muitas vezes uma terra bruta, perde um tempão par prepara-la e não tem este reconhecimento”, diz Zanqueta que também aponta como alternativa a pesquisa parta criar variedades mais produtivas, com maior teor de amido e com maior resistência à pragas e doenças.
YIELD GAP – Oswaldo Zanqueta acredita, ainda, que o projeto Yield Gap na Cultura de Mandioca pode ser uma alternativa para enfrentas as dificuldades do setor. O projeto foi apresentado na última reunião da Câmara Setorial, realizada nesta terça-feira (11), por videoconferência, pelo professor Nereu Augusto Streck, da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). “Trata-se de um projeto internacional que está sendo disseminado pelo país e que pode aumentar a produção sem o aumento de áreas, só com o aumento da produtividade e a eliminação de desperdício, o que reduz o custo de produção”, diz o presidente.
Ele explica que a expressão “Yield Gap” significa Espaço de Produtividade e o programa foi desenvolvido com o apoio do bilionário Bill Gates, empresário e filantropo, que ficou conhecido como fundador da Microsoft. O magnata trabalha para aumentar a produção de alimentos para atender o crescimento da populacional mundial.
Cita que o projeto vem encontrando parceiros em todo o país. “É um projeto interessante, que vai monitorar a cultura, nas pequenas propriedades, que produzem a mandioca de mesa, e nas grandes, que atendem as indústrias. Vai identificar as oportunidades de melhorar a produção sem o aumento de áreas”, enfatiza Zanqueta.