O manejo correto da adubação é um dos requisitos para se obter um mandiocal produtivo. Por ser uma cultura que consegue crescer e produzir em ambientes de baixa fertilidade, criou-se uma crença de que a mandioca é uma planta rústica, que não necessita ou que não responde a adubação. No entanto, precisamos lembrar que a mandioca é uma cultura que absorve e exporta grandes quantidades de nutrientes da área de cultivo.
Dessa forma, para a cultura expressar todo o seu potencial é preciso que os nutrientes estejam disponíveis em quantidade e proporções adequadas para nutrir adequadamente as plantas. É fato que em solos de baixa fertilidade a mandioca, diferente de outras culturas agrícolas, consegue reduzir o crescimento da planta e manter teores relativamente altos de alguns nutrientes nas folhas. Em função disso, muitas vezes, a análise foliar não indica deficiência de alguns nutrientes, mas a produtividade de raízes é comprometida. Portanto, para se obter sucesso no cultivo de mandioca um dos pontos fundamentais para se iniciar um mandiocal é realizar a coleta e análise do solo para avaliar a sua fertilidade e utilizar a análise foliar como um complemento da análise de solo.
A mandioca é relativamente tolerante a acidez do solo. Porém, sempre que a análise de solo indicar uma saturação por bases inferior a 45% recomenda-se fazer a calagem para elevar essa saturação por bases a valores entre 50-55%. Áreas ocupadas por pastagem durante vários anos normalmente precisam receber calagem antes do estabelecimento da mandioca, mas a quantidade de calcário a ser aplicada dependerá dos resultados da análise de solo. Lembramos que a calagem além de corrigir a acidez do solo também fornece às plantas cálcio e magnésio, nutrientes essenciais para a mandioca.
Normalmente a mandioca é cultivada em solos de textura leve e com baixa capacidade de retenção de nutrientes. Por isso, a adoção de técnicas de manejo que aumentem o teor de matéria orgânica no solo (tais como o plantio direto e/ou adubação verde) devem ser incentivadas para aumentar a retenção de nutrientes e auxiliar na manutenção da umidade do solo e controle da erosão. Após a correção do solo, o passo seguinte é a adubação de base. A adubação de base dever ser feita considerando os resultados da análise de solo e os boletins de recomendação para a mandioca. Em linhas gerais, se recomenda a aplicação de todo o fósforo (P) no sulco de plantio, com doses de variam de 0 a 80 kg/ha de P2O5.
No caso do nitrogênio (N), a maioria das recomendações não indica a sua aplicação no plantio, mas sim em cobertura. Contudo, com a adoção do plantio direto (sobre palhada de braquiária, aveia preta ou milho safrinha), a aplicação de N antecipada (na planta de cobertura) ou no sulco de plantio pode ser uma alternativa interessante, especialmente para plantios realizados entre os meses de maio a agosto. Nessas condições, o uso de fontes que contém N e P (MAP, por exemplo) no sulco de plantio e a aplicação de potássio (K) em pós-plantio (em área total) pode gerar resultados interessantes. Contudo, deve-se ter cuidado com o excesso de N no primeiro ciclo da mandioca, porque ele causa o crescimento exagerado das plantas e reduz a produtividade de raízes. Devido a isso, a maioria das recomendações não indica mais do que 40 kg/ha de N em cobertura durante o primeiro ciclo da mandioca.
O potássio (K) é o nutriente mais absorvido pela mandioca e ele é fundamental para aumentar a produção de fécula. As doses de K a serem aplicadas variam de acordo com a análise de solo, mas em solos com baixa disponibilidade de K a mandioca tem respondido a doses entre 100 e 130 kg/ha de K2O.
O ideal é parcelar a adubação potássica, ou até mesmo retirar o K do sulco de plantio e aplicá-lo em pós-plantio (em área total), especialmente em solos com média-alta disponibilidade inicial de K. A retirada de K do sulco de plantio é interessante especialmente quando se utiliza fontes como o cloreto de K (KCl) que possui alto índice salino e quando a mandioca é plantada na estação seca (maio-agosto). Em solos com menor disponibilidade de enxofre (S), o uso de fontes como o sulfato de K tem proporcionado produtividades maiores do que o KCl. Porém, estudos atualizados sobre a eficácia de diferentes fontes de K na cultura da mandioca precisam ser realizados.
A aplicação de K em cobertura no primeiro ciclo da mandioca pode ser realizada junto com o N. Quando o plantio ocorre na estação seca, a brotação das manivas é lenta, e devido à baixa pluviosidade, a aplicação de N e K em cobertura deve ocorrer entre 2,5 a 3,0 meses após a emergência (MAE), ou seja, quando ocorrerem chuvas.
Porém, quando o plantio ocorre na estação chuvosa (setembro-início de novembro), a brotação é mais rápida e a adubação de cobertura com N e K podem antecipadas para 1,0 ou 2,5 MAE. O enxofre (S) é um nutriente pouco estudado na cultura da mandioca, mas ele é componente básico de certos aminoácidos e proteínas. Como não existe uma recomendação específica de adubação sulfatada para a mandioca, sempre que possível deve-se utilizar fontes de fertilizantes NPK ou nitrogenados que contenham S na sua formulação para evitar possíveis deficiências. Altas doses de K na forma de KCl podem induzir deficiência de S em mandioca devido ao cloro.
No caso dos micronutrientes, é fundamental fazer a análise de solo e caso a disponibilidade deles no solo seja baixa, é recomendado fazer a adubação corretiva via solo, seja no plantio, ou em cobertura junto com as adubações nitrogenada e potássica. O zinco (Zn) é um micronutriente indispensável para a mandioca, e especialmente em áreas que receberam aplicação de calcário, deve-se aplicar entre 2 e 4 kg/ha de Zn na mandioca.
No caso dos outros micronutrientes, apesar de não haver uma recomendação específica para a mandioca é preciso fazer a adubação de correção para se manter teores no solo dentro de valores considerados de médios a altos. Ou seja, é importante haver equilíbrio nutricional para a cultura da mandioca expressar todo o seu potencial produtivo. Isso quer dizer que não adianta o agricultor investir pesado em adubação potássica (porque o K é o nutriente mais absorvido) e esquecer de incluir o Zn ou outros micronutrientes na adubação, especialmente em áreas deficientes em micronutrientes.
Alguns estudos têm indicado que o tratamento das manivas, via imersão, com micronutrientes como Mn, Fe ou Zn pode minimizar o surgimento de deficiências no mandiocal. Porém, estudos sobre adubação foliar com micronutrientes em mandioca são escassos. As poucas informações de pesquisa existentes sugerem que a adubação foliar pode ser realizada em situações que visem minimizar deficiências, especificamente de micronutrientes como Mn e Zn.
No entanto, apesar de nos últimos anos ter havido uma evolução muito grande em relação as fontes de nutrientes para aplicação foliar é necessário a realização de estudos para comprovar sua eficácia e viabilidade na cultura da mandioca. Uma técnica pouca comentada na cultura da mandioca, mas que traz resultados interessantes é a realização de adubações equilibradas na planta matriz para posterior uso das ramas (ramas bem nutridas). Estudo realizado em Botucatu-SP mostrou que ramas de mandioca provenientes de plantas fertilizadas com maiores níveis de K resultaram em um mandiocal melhor estabelecido e mais produtivo.
Nas lavouras cultivadas por dois ciclos vegetativos, pouco se fala em manejo da adubação no 2° ciclo. Porém, alguns estudos têm indicado que a aplicação de K e/ou K e N no início do segundo ciclo aumenta a velocidade de recomposição da área foliar perdida durante a fase de repouso fisiológico e beneficia para a produtividade de raízes e fécula.
Vale destacar que nestes estudos as aplicações de N e K no 2º ciclo ocorreram nas primeiras chuvas entre agosto e setembro e as colheitas foram realizadas 8 meses após a adubação do 2º ciclo. No entanto, não há uma recomendação padrão de adubação que seja adequada para todas as situações de cultivo. Portanto, para se obter maiores produtividades de raízes e fécula na cultura da mandioca, as recomendações de adubação devem seguir critérios técnicos e as características de solo e cultivo de cada região.