O amido ceroso ou waxy é muito desejado pela indústria alimentícia por apresentar no máximo 5% de amilose, o que determina menor perda de água após o resfriamento do produto pronto. Normalmente, as variedades comerciais possuem entre 19% e 27% de amilose na composição do amido. A mandioca waxy deve trazer benefícios associados à melhor qualidade e tempo de prateleira dos produtos derivados da industrialização de alimentos refrigerados e congelados que possuem o amido em questão em sua composição.
O Centro Internacional de Agricultura Tropical (Ciat), da Colômbia, foi o primeiro responsável pela identificação do gene waxy. Em uma parceria com a Embrapa são desenvolvidas três metodologias de seleção precoce de clones de mandioca com amido ceroso. Esses trabalhos integram o esforço em obter uma variedade de mandioca com esse tipo especial de amido que possa ser produzida em larga escala no Brasil.
Esses trabalhos, publicados recentemente em periódicos internacionais, surgiram da necessidade de acelerar o processo de desenvolvimento de clones waxy do programa de melhoramento genético de mandioca da Embrapa. O objetivo principal é otimizar o processo de seleção dos clones com essa característica de interesse, levando a campo somente os que apresentem o amido waxy.
“As metodologias trazem amplas vantagens aos métodos tradicionais de avaliação do amido ceroso em mandioca, que, apesar de precisos, são realizados de forma tardia”, pontua o engenheiro-agrônomo Eder Jorge Oliveira, pesquisador da Embrapa Mandioca e Fruticultura (BA).
Oliveira enumera os potenciais impactos dessas metodologias: redução da área demandada para o plantio dos clones em pelo menos 75%, possibilidade de realizar cruzamentos já na fase de seedlings (antes das etapas de campo), otimização dos custos do programa de melhoramento genético, garantia de rastreabilidade das futuras cultivares com amido ceroso para fins de proteção dos direitos de propriedade intelectual e, por fim, a otimização do tempo necessário para desenvolvimento de cultivares de mandioca com amido waxy.
TESTE PRECISO, MAS DEMORADO – Convencionalmente, a avaliação do fenótipo waxy é feita no momento da colheita das plantas com uso do teste do iodo nas raízes. Com base nesse teste, é possível separar visualmente pela coloração das raízes se elas são ou não waxy. Embora essa metodologia seja precisa, ela demanda muito tempo, pois o ciclo da cultura é, em média, de um ano.
O pesquisador explica que, quando você faz cruzamentos de uma fonte waxy com uma fonte não waxy, todas as sementes derivadas desse cruzamento possuem o fenótipo não waxy. Elas têm o alelo (variação específica do gene que vai determinar como dada característica irá se expressar no indivíduo) do amido ceroso, mas ele não se expressa porque a herança da resistência é homozigótica recessiva.
“Com isso, é possível autofecundar ou fazer um novo ciclo de cruzamento entre as plantas F1s para gerar sementes que tenham segregação para o amido ceroso. Essa segunda geração leva a uma segregação esperada de três para um, sendo três partes com fenótipos não waxy, portanto, não desejados, e apenas uma parte, 25%, com fenótipo waxy. Depois dos cruzamentos, ainda é preciso plantar as sementes em casa de vegetação, obter as plantas e fazer o transplantio para o campo para avaliação convencional do fenótipo apenas no fim do ciclo da cultura. Basicamente, avaliamos se são waxy ou não waxy no momento da colheita, quando fazemos o teste do iodo, o que demanda muito tempo”, explica Oliveira. (Fonte: Embrapa)