É importante compreendermos como inúmeros agentes do Agronegócio Mandioca se articulam. Podemos tomar como exemplo, a primeira sugestão técnica de adubação fosfatada com fósforo (P) em 1995, baseada em resultados científicos do IDR-Paraná, no noroeste do Paraná.
Os contratos para arrendamentos de reformas de pastagens naquela época se limitavam à calagem com calcário para corrigir a acidez da terra, combinadas ou não com a construção de terraços e, por vezes, o arrendatário se comprometia a entregar o pasto plantado.
A fertilidade dos solos arenosos do Arenito Caiuá era baixa de acordo com a caracterização regional publicada em 1997. Os pastos e lavouras anuais tinham baixos teores, correspondentes a média de 3,5 ppm ou mg dm-3 de P, inferiores às lavouras de café e amoreira que eram frequentemente adubadas.
Os resultados de pesquisas realizadas em 1985-1987 de recuperação de pasto degradado apontaram predominância da “grama mato-grosso” ou Paspalum notatum. Diversas culturas foram semeadas após feita a calagem e adubação no sulco de plantio e em cobertura. A mandioca, entretanto, foi plantada sem adubação por considerarem satisfatória a produtividade de 20 toneladas por hectare de raízes de mandioca naquela época. No Boletim Técnico que foi publicado em 1997, trazendo os resultados, os autores concluíram que o cultivo de mandioca foi a melhor opção para a formação capim colonião por conta dos teores residuais de fósforo no solo.
Interessante destacarmos que uma recomendação técnica informal surgiu após as discussões dos resultados de um resumo publicado e apresentado em 1995, durante o XXV Congresso Brasileiro de Solo, realizado em Viçosa (MG). A sugestão foi de orientar a adubação fosfatada para solos com resultados de análises químicas que viessem a apresentar teores de P inferiores a 3 ppm ou mg dm-3. Esta sugestão de adubação fosfatada foi baseada na comprovação do aumento da produtividade de raízes de mandioca às doses crescentes de adubação fosfatada, associada aos aumentos dos teores de fósforo (P) no solo após o cultivo de mandioca (Figuras 1A); sendo importantes para a formação dos pastos (Figura 1B).
Figura. 1. Produção de raízes (A) e teor de fósforo (P) no solo antes da colheita de raízes de mandioca em função das doses de P, nos municípios de Paranavaí e Altônia (Fonte: adaptado de Fidalski, 1999).
Atualmente, o uso e manejo de fertilizantes para o plantio e cultivo de lavouras de mandioca se tornaram uma prática conservacionista de solos conhecida e amplamente utilizada pelos mandiocultores em solos arenosos do Arenito Caiuá, no noroeste do Paraná. De forma complementar, as recomendações de calagem e adubação para mandioca foram atualizadas em 2017 com a publicação da primeira edição do Manual de Adubação e Calagem para o Estado do Paraná, publicada pela Sociedade Brasileira de Ciência do Solo do Núcleo Estadual Paraná.
Referências
FIDALSKI, J. Respostas da mandioca à adubação química e calagem em áreas sob processo de recuperação de pastagens no arenito Caiuá do Paraná. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIA DO SOLO, 25., Viçosa, 1995. Resumos Expandidos, Viçosa: SBCS, UVF, v. 3. p. 1285-1287, 1995.
FIDALSKI, J. Respostas da mandioca à adubação NPK e calagem em solos arenosos do noroeste do Paraná. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, v. 34, n.8, p. 1353-1359, 1999.
FIDALSKI, J. Fertilidade do solo sob pastagens, lavouras anuais e permanentes na região noroeste do Paraná. Revista Unimar, Maringá, v. 19, n.3, p. 853-861, 1997.
MARUN, F.; MELLA, S.C. Recuperação de pastagens pela sucessão de culturas anuais e bianuais; um estudo no noroeste do Paraná. Londrina: IAPAR, 1997. 24 p. (IAPAR. Boletim técnico, 52).
SOCIEDADE BRASILEIRA DE CIÊNCIA DO SOLO – NÚCLEO ESTADUAL PARANÁ. Manual de Adubação e Calagem para o Estado do Paraná. Curitiba: SBCS/NEPAR, 2017.482 p.