Produtores de mandioca têm registrado nas últimas semanas o ataque da mosca branca, comprometendo a produtividade das lavouras atacadas, tanto em volume de raízes quanto em renda. “Lavouras com ataque da mosca branca têm uma produtividade bem menor”, diz o pesquisador da Embrapa Mandioca e Fruticultura, Rudiney Ringenberg, agrônomo com mestrado em Fitossanidade e doutorado em Entomologia.
O ataque da mosca branca tem sido objeto de conversas nas reuniões semanais do Sindicato das Indústrias de Mandioca do Paraná (SIMP), já que a quebra na produtividade impacta negativamente o processo industrial.
De acordo com Ringenberg, a renda da mandioca já estava comprometida anteriormente por conta de fatores climáticos (escassez hídrica, geadas que atrasaram a brotação de segundo ciclo e as chuvas em alguns períodos com fortes ventos e granizo) e por isso, os impactos do ataque dos insetos serão ainda maiores.
O pesquisador relata que a alta infestação de mosca branca tem sido recorrente nos últimos anos, principalmente em janeiro e fevereiro. “A população de mosca branca inicia seu aparecimento nas lavouras de mandioca de outubro até maio, com pico de ocorrências em janeiro e fevereiro”, lembra.
Ele explica que a mosca branca se alimenta nos vasos do fluema, ou seja, onde estão os fotoassimilados decorrentes da fotossíntese e que serão enviados para a raiz para serem acumulados em forma de amido. “Então uma alta infestação de mosca branca compromete a produtividade das lavouras atacadas, tanto em volume de raízes quanto em renda”.
Rudiney Ringenberg acrescenta que “outro fator, como consequência, já que a planta é um sistema integrado, se temos menos renda na raiz, menos amido acumulado na rama na sua maturação. Então, por consequência, se o produtor utilizar ramas provenientes de lavouras que tiveram ataque intenso de moscas branca para implantação de um novo mandiocal, automaticamente, serão lavouras com baixo vigor”.
SECA – O agrônomo, que tem experiência em Entomologia Agrícola e atua nas áreas de biologia de insetos, controle biológico, parasitoide de ovos e manejo integrado de pragas, confirma a desconfiança dos produtores de que a seca tem contribuído para a proliferação do inseto. Segundo ele, os longos períodos de seca favorecem a “multiplicação mais acelerada” da mosca branca, porque a planta “muda um pouco o seu metabolismo e nestas épocas sobram mais fotoassimilados no ponteiro da planta. Então a mosca branca tem mais açúcares livres para fazer o seu desenvolvimento”
Por outro lado, quando há muita chuva, como a mosca branca é um inseto muito pequeno, as gotas acabaram derrubando principalmente os adultos e eliminando esta população de adultos. “Já na população de mosca branca ninfas, que estão na fase jovem, na folha, bem grudada, a chuva em si não diminui a população. No entanto, favorece os inimigos naturais, no caso, os fungos entomopatogênicos , para eles se estabelecerem em cima das ninfas. Quando temos épocas chuvosas, com umidade relativa do ar mais alta, os fungos entomopatogênicos ocorrem naturalmente, conseguem atacar estas ninfas e elimina-las”, ensina ele.
MANEJO – O pesquisador afirma que o manejo deste inseto não deve ser iniciado quando já está instalado. “O manejo da mosca branca começa no surgimento do mandarová”. Ele explica que a primeira praga a aparecer na lavoura é o mandarová e quando ele atinge o pico de população “não se deve ou deve-se evitar ao máximo a aplicação de inseticidas de amplo espectro de ação, como exemplo, os piretróides, porque eles eliminam todos os inimigos naturais que estão dentro da lavoura, inclusive os das moscas brancas. Como as moscas brancas estão iniciando sua infestação no mandiocal e por consequências os inimigos naturais também estão se instalando, se aplicar um inseticida de amplo espectro para os mandarovás, também elimina os inimigos naturais da mosca branca (parasitoides e predadores) e favorece a sua multiplicação, porque não terá nenhum fator de manejo natural. Na época seca, isso se potencializará, pois, os fungos entomopatogênicos também terão dificuldade de parasitar as moscas”.
De acordo com o especialista, outros fatores que ajudam a aumentar a infestação da mosca branca são o uso de cultivares suscetíveis à ela. “Temos algumas variedades suscetíveis, como a olho junto, e a baianinha. E tem variedades com mais resistência, não tão plantadas, como a fécula branca, que se mostra mais resistentes”.
Resume que o planejamento e manejo da mosca branca deve começar no início da formação da lavoura, “na adubação correta para ter uma planta com mais resistência natural, aliado ao manejo racional do mandarová com produtos que não ataquem os inimigos naturais, mais a parte de cultivares mais resistentes a estes ataques”.
Como prevenção a infestação da mosca branca, o pesquisador aponta o plantio na época correta; adubação equilibrada, de acordo com a análise de solo (para que se tenha uma planta bem desenvolvida); escolha de ramas sadias, com bastante vigor, que consiga suportar este ataque do inseto; a escolha de cultivar com maior resistência; e o manejo racional do mandarová para que se conserve os inimigos naturais na lavoura de mandioca.
SOJA – Rudiney Ringenberg conta que historicamente havia apenas duas espécies de moscas brancas que infestava os mandiocais, principalmente nas regiões Sul e Nordeste. No Sul era espécie Bemisia tuberculata e no Nordeste a Aleurothrixus aepim. “No entanto, nos últimos anos, temos observado que a Bemisia tabaci, que ataca a soja e olerícolas dentre outras culturas, está se adaptando na mandioca, o que não ocorria antigamente no Brasil”, revela.
Segundo ele, a equipe de entomologia da Embrapa, da Unioeste e da Esalq (Escola Superior de Agronomia Luiz de Queiroz/USP) fez uma viagem no ano passado e coletou adultas e ninfas em aproximadamente 75 mandiocais nos estados do Paraná, Mato Grosso do Sul e São Paulo. Esse material foi enviado para São Paulo para identificação das espécies de moscas branca presentes nas amostras.
“Percebemos que está crescendo muito os ataques de mosca branca nos últimos anos e queremos entender o que está acontecendo. Estamos achando que está aumentando muito a população da Bemisia tabaci, que se adaptou. Como está entrando muito soja no arenito elas podem, nesta época, estar migrando da soja (que agora estão madurando, amarelando para ser colhido) para os mandiocais. Elas estão buscando novos hospedeiros. Antigamente isso não ocorria porque B. tabaci não ocorria na mandioca”.
ESCALA DE NÍVEL DE DANO – Até pouco tempo atrás não havia nenhum produto químico registrado para o manejo de mosca branca. “O grupo da Minor Crops informa que pleiteou o registro produtos para o controle da mosca branca na mandioca e hoje temos produtos registrados a base de neonicotinoide, cetoenol e butenolida. No entanto, o produtor precisa fazer um manejo racional preservando os inimigos naturais. Se não tivesse este trabalho, provavelmente, não haveria nenhum produto para esta finalidade”, diz o pesquisador.
Destaca, contudo, que “existe o controle biológico da mosca branca por meio da aplicação de Beauveria basssiana e Isaria fumosorosea, com condições de umidade relativa alta a aplicação desses entomopatogenos tem tido bons resultados nos mandiocais. Não é o caso deste ano, que estamos em época seca, que prejudica a eficiência dessa importante alternativa de controle, mas é uma ferramenta de controle biológico para o manejo da mosca branca”.
Após realizar um estudo em cima de trabalhos de biologia em diferentes cultivares, com tabela de vida de fertilidade, onde se mede vários aspectos da biologia do inseto, Ringenberg e a bióloga Vanda Pietrowski, professora da Unioeste, mestre e doutora em Ciências Biológicas, área de concentração em Entomologia atuando na área de Entomologia Agrícola, com ênfase em controle biológico, agricultura orgânica, agroecologia e pragas de mandioca, estão propondo uma escala de nível de dano para subsidiar o produtor no manejo da mosca branca em mandioca”.
Segue a escala de nível de dano proposta:
- Clima seco e plantas com poucas folhas – Iniciar o manejo quando a média de adultos na segunda folha aberta do ponteiro atingir 15 adultos;
- Chuvas normais e plantas com poucas folhas – Iniciar o manejo quando a média de adultos na segunda folha aberta do ponteiro atingir 25 adultos;
- Chuvas normais e planta com massa foliar estabelecida – Iniciar o manejo quando a média de adultos na segunda folha aberta do ponteiro atingir 50 adultos.
A amostragem deve ser feita em talhões composto pela mesma cultivar e data de plantio. Caso se tenha diferentes cultivares na mesma propriedade, a amostragem deve ser feita em cada cultivar e as médias consideradas para cada material. Recomenda-se amostrar cinco pontos por talhão e quatro plantas por ponto contando os adultos da segunda folha aberta do ponteiro. (Do site do SIMP).