Produtor de pimenta-do-reino há cerca de 40 anos, Nelson Noriaki é um dos participantes do projeto desenvolvido em parceria pela Fundação Amazônia de Amparo a Estudos e Pesquisa (Fapespa) e pesquisadores da Universidade Federal do Pará (UFPA), que busca criar uma película feita de amido de mandioca para recobrir a pimenta-do-reino e protegê-la contra as mais diversas doenças e contaminações, além de estender a vida útil do produto, conservando-o por muito mais tempo.
“Considero de extrema importância a ciência caminhar sempre de mãos dadas com os produtores, não só na área de produção, mas também na pós-produção, que é a armazenagem. Sei que ainda temos muito a avançar. A cultura de pimenta sempre vem sofrendo inovações ao longo do tempo. Acredito que os produtores sempre estarão de braços abertos pra somar às novas descobertas, tanto no campo da produção, como na armazenagem”, ressalta Nelson Noriaki.
Para o presidente da Fapespa, Marcel Botelho, o projeto representa um importante passo no fortalecimento da produção da pimenta-do-reino no Pará, e em outros pontos do Brasil. “A semente (pimenta) é um produto com grande potencial econômico no País. Por isso, desenvolver biossoluções que utilizem tecnologia e ideias inovadoras representa o comprometimento da Fapespa com o fomento de uma ciência que produza melhorias socioeconômicas”, enfatiza Marcel Botelho.
O amido de mandioca, matéria-prima utilizada na pesquisa, é biodegradável e não traz riscos ao meio ambiente. As pimentas-do-reino utilizadas vêm de produtores paraenses. O processo envolve recobrir as sementes de pimenta-do-reino com uma película protetora feita com substâncias inertes, entre elas o amido de mandioca, que não alteram as características do produto, mas aumentam a vida útil e formam uma barreira que protege contra o ataque de microrganismos causadores de doenças, como fungos e bactérias. O biofilme também protege contra processos naturais, como a degradação por umidade e oxidação, e há inclusive resultados demonstrando que também protege contra salmonela (Salmonellose).
SEM ALTERAÇÕES – As qualidades e características do produto in natura, como a aparência, odor e sabor, serão mantidas. “Estamos na fase inicial de escalonamento do projeto, comprando equipamentos e organizando a estrutura dos laboratórios. Mas, na área técnica, já temos as pesquisas para a caracterização física e química do amido de mandioca comercial, que será usado no processo de recobrimento das sementes de pimenta-do-reino. A previsão é que essa fase seja concluída em até seis meses”, afirma o coordenador do projeto, professor Davi Brasil.
A proposta é oferecer uma alternativa econômica e sustentável ao agronegócio paraense e mais qualidade ao produto que chega à população. Nos últimos anos, a Fapespa disponibilizou mais de R$ 100 milhões em recursos para fomento de pesquisas em diferentes áreas, como Ciências Biológicas, Ciências da Saúde, Ciências Exatas e da Terra; Engenharias e Ciências Humanas, e ainda na área Multidisciplinar.
O Pará está entre os três estados com a maior produção de pimenta-do-reino, acompanhado pelo Espírito Santo e Bahia. Esse tipo de pimenta é uma planta trepadeira, originária do Sudeste Asiático e uma das especiarias mais importantes no ramo alimentício. Atualmente, 90% da sua produção estão concentrados entre oito países. O Brasil ocupa o terceiro lugar, representando a força do País na produção dessa commodity. (Da Agência Para)