Trabalhando com mandioca há 32 anos – em 1990 fez os primeiros plantios e em 1994 construiu sua primeira fecularia, o agroindustrial Paulo Lopes, de Nova Londrina, toma posse nesta quinta-feira, dia 30, como presidente da Associação Brasileira de Produtores de Amido de Mandioca (ABAM) com a expectativa de que o setor vai avançar muito nos próximos anos. “Não vou ser eu que vou fazer isso, mas toda a diretoria e os associados”, diz ele.
É a primeira vez que ele assume o cargo de presidente de uma associação e já o faz numa entidade e abrangência nacional, embora hoje possua cinco unidades industriais. “Aceitei o desafio. E vamos enfrentar as dificuldades com determinação”, acrescenta. Lopes comenta que a entidade teve “bons presidentes, bons diretores. E ainda temos os associados. É um grupo bom que vai trazer melhorias para o setor”. Aproveita o comentário pata agradecer ao ex-presidentes, “especialmente” o que vai suceder, Valter de Moura Carloto e aos associados “pela confiança. Todos merecem meu reconhecimentos e aplausos”.
Na opinião do futuro presidente da ABAM, o setor já vive um momento diferenciado que, na sua visão, será “um marco no setor”. Ele refere-se à criação do Fundo de Desenvolvimento da Mandioca (FDM) e a colhedeira de mandioca lançada este ano. O Fundo vai financiar pesquisas para o setor e a colhedeira vem para resolver o principal gargalo da produção da raiz, que ainda é colhida manual ou, no máximo, semimecanizada.
Acentuando que a colheita mecanizada será prioridade em sua gestão, Paulo Lopes informa que já conhece o equipamento lançado este ano pela indústria Inroda, batizada de Maná, e está otimista. “Todos nós temos obrigação de contribuir para a máquina dar certo”, sentencia ele.
Outra grande prioridade de Lopes será a busca de recursos públicos para o setor. “Temos que ir ao governo estadual e ao governo federal em busca de recursos para nossa cadeia produtiva. Temos acesso às autoridades e temos que ir até elas”, diz.
A primeira vez que o setor recebeu recursos público foi em 2020, quando o deputado Filipe Barros apresentou emenda ao Orçamento da União, destinando R$ 400 mil para a Embrapa, para ser aplicado em pesquisa de mandioca no Paraná. Depois ele aportou mais duas emendas, uma de R$ 700 mi e outra de R$ 500 mil.
Para Lopes, o setor deve se alinhar mais com o setor público e buscar mais recursos para aplicar na pesquisa de novas variedades, sistemas de produção, agroquímicos e em equipamentos. “Queremos buscar recursos para melhorar o nossos setor”, diz ele.
SETOR COMPETITIVO – Com mais de 30 anos de experiência no setor, Paulo Lopes defende uma maior parceria entre produtor e indústria para evitar as grandes oscilações de preço da raiz da mandioca, que causa instabilidade no mercado. Segundo ele, os contratos entre as duas partes podem garantir um preço mais equilibrado, dando maior tranquilidade tanto para que planta como para quem industrializa. Na sua avaliação alguns produtores e indústrias já tomaram esta consciência e começaram a adotar esta prática. “Temos que debater mais este assunto”, opina.
Um mercado mais estável aumenta a competitividade do setor, inclusive no mercado internacional e as exportações de fécula hoje são umas das melhores alternativas para ampliar o mercado. No ano passado, o Brasil bateu recorde histórico de exportação de fécula de mandioca, com a comercialização de 42 mil toneladas. Mas, na opinião de Lopes, aparentemente este volume é o teto para as vendas no exterior, já que Tailândia e a Nigéria devem voltar ao mercado internacional. Atualmente estes dois países estão com sua produção comprometida com a China. Mas eles voltando ao mercado o Brasil vai perder espaço. “A não ser que tenhamos um preço mais nivelado e competitivo”, diz Lopes.
Há um outro mercado que o setor tem condições de conquistar, “mas tem que fazer um trabalho de formiguinha”. É a adição da fécula de mandioca na farinha de trigo usada na panificação. “Este assunto merece um debate mais profundo”, diz Paulo Lopes. Ele explica que há a necessidade de buscar a confiança destas indústrias. “Temos que ir lá, conversar com o padeiro, mostrar pra ele as vantagens. Tem que investir neste trabalho”, aponta ele.
O caminho, diz o futuro presidente da ABAM, é fazer com que o consumidor também aceite esta adição. “Quem manda é o consumidor. Tem que conquistar a confiança dele também”, explica, acrescentando que esta é uma boa alternativa para o setor avançar.
Para Paulo Lopes a cadeia produtiva deve se preocupar mais em levar informação à população sobre a importância da mandioca e suas múltiplas formas de aplicação. “A população não sabe em quais produtos vai à mandioca”, diz ele, referindo-se à aplicação da fécula para muito além do setor alimentício: papel e papelão, embutidos, lácteos, farmacêutico, cosmetologia, têxteis e até na perfuração de poços de petróleo.
“Temos que divulgar mais a importância do amido de mandioca, fazer mais marketing do nosso produto, mostrar que é um produto nobre”, diz ele. “Nosso setor pode avançar muito. Vamos trabalhar para isso. Veja que até pouco tempo atrás poucos conheciam a tapioca ou o pão de queijo. Nem se encontrava nos mercados. Hoje todos consomem. Ainda é um produto novo. E assim será com outros produtos. Vamos avançar sim”, arremata Paulo Lopes.