Representante da Confederação Nacional da Agricultura (CNA) junto à Câmara Setorial da Cadeia Produtiva da Mandioca e Derivados, o agroindustrial Ivo Pierin Júnior encaminhou proposta pleiteando que a entidade gestione junto ao Ministério da Agricultura para que sejam realizados “estudos no sentido de alterar as normas a respeito do seguro rural e/ou financiamento agrícola de grãos para as regiões de solo arenoso, especialmente na região do Arenito Caiuá, no Paraná”. Ele propõe que a “concessão de financiamentos e/ou contratação de seguro para as culturas de grãos nas regiões de solo arenoso e próximas de unidades de beneficiamento de raízes, seja condicionado ao plantio de uma área de mandioca suficiente para cobrir parte ou o valor do empréstimo para reduzir o valor a ser indenizado em caso de frustração de safra e, consequentemente reduzir o valor do prêmio”.
A ideia foi apresentada anteriormente a produtores e industriais de mandioca filiados ao Sindicato das Indústria de Mandioca do Paraná (SIMP) e Associação Brasileira dos Produtores de Amido de Mandioca (ABAM). A proposta não é nova e é praticada, com sucesso, pela Agrícola Horizonte, de Marechal Cândido Rondon, Oeste do Estado.
A proposta é copiar o modelo da empresa e adotá-lo principalmente na região do Arenito Caiuá, que, estimulado pelos altos preços, vem ampliando suas áreas com a soja. Ano passado houve frustração de safra e os produtores tiveram que recorrer ao seguro ou amargar prejuízos.
Pierin diz que a intenção da proposição é baixar os valores dos seguros e reduzir os juros do financiamento, já que no cálculo está embutido um percentual de risco de inadimplência. “É uma proposta que, para a cadeia produtiva da mandioca, vai ter impacto a médio e longo prazo. Mas o setor não deve se preocupar só com o amanhã, mas aproveitar momentos propícios para discutir determinados assuntos”, diz ele. “A situação não vai mudar da noite para o dia. É um caminho novo. Acho que temos que correr atrás”, complementa
Ao falar em “momento propício”, Pierin se refere à frustração de safra de soja no ano passado por conta de condições climáticas, que levou vários produtores a requerer a indenização do seguro agrícola para poder honrar os compromissos. Este fato, inclusive, tem afastado as seguradoras do seguro agrícola.
EXPERIÊNCIA EXITOSA – Mais resistente às secas e outros fenômenos climáticos e com opções de colheita entre um e dois anos, a cultura da mandioca foi a alternativa encontrada pela Agrícola Horizonte para reduzir a inadimplência em sua carteira de crédito, devido às frustrações em algumas safras de grãos. A empresa, além de produzir amido de mandioca e de milho, também comercializa insumos para produtores de grãos (soja, trigo e milho) e também para os mandioca.
“Com a percepção de que a mandioca é uma cultura bem segura quanto as intempéries, passamos a procurar os produtores com débito conosco, e os que se propuseram a fazer o plantio de mandioca em parte de sua área, continuamos continuou financiando, para que, com a colheita de mandioca, eles conseguissem quitar as pendências conosco, o que, quase que a totalidade dos produtores que aderiram à proposta, conseguiu . E quase que a totalidade dos produtores que aderiram à proposta conseguiu liquidar suas dívidas com a empresa”, revela Sigmar Herpich, técnico da Amidos Horizonte.
ALTERNATIVA DE CRESCIMENTO – Este modelo de crédito, que promoveu um crescimento da área de plantio de mandioca na região, foi praticado muito pela empresa durante 10 anos (entre 2005 e 2015). Mas, com o retorno de boas safras, o incremento do crédito rural, a chegada dos seguros e do Proagro, esta prática reduziu muito.
A frustração na última safra de grãos em algumas regiões do Paraná, no entanto, acendeu uma luz de alerta. “O seguro funcionou muito bem por alguns anos, teve alta adesão, mas por causa de problemas climáticos as seguradoras vão ter que pagar muitas indenizações e elas estão sendo mais criteriosas na contratação do seguro rural, e talvez a proposta de atrelar crédito ao cultivo da mandioca, volte à pauta, “comenta o representante da Agrícola Horizonte
A proposta, na opinião de Pierin, é um ganha-ganha. Ganham as instituições financeiras e seguradoras que terão maior garantia de recebimento, ganha o produtor, que mesmo com a frustração de safra de grãos terá uma alternativa de pagamento do financiamento e ganha o setor mandioqueiro, com o aumento da produção.
“É claro que não vai ter aí um aumento de 10 mil hectares”, exagera Pierin. “Começará com 50, 100, 200 hectares e assim vai aos poucos. Não estou preocupado com o ano que vem, que deve ter uma boa safra de mandioca. Mas com o futuro. Temos que aproveitar estas oportunidades para discutir alternativas de crescimento do setor”, arremata Pierin.