Talvez a mandioca seja a mais brasileira das culturas, sendo cultivada em todo o território. Dessa forma, a pesquisa não pára de inovar e trazer soluções para o manejo dessa cultura, que traz consigo também aspectos socioculturais da população brasileira. Assim nasceu o plantio direto de mandioca, que a partir de princípios conservacionistas, traz benefícios para toda a cadeia produtiva.
O primeiro deles, apontado pelo pesquisador da Embrapa (Cruz das Almas-BA) Marco Antônio Rangel, é o econômico. O manejo em sistema plantio direto, quando feito corretamente, traz economia de tempo e de recursos financeiros, afirma o agrônomo. “Bem conduzido, não é necessário fazer todo o preparo do solo, no qual os custos são elevados. No plantio convencional, a produtividade gira ao redor de 80 toneladas por alqueire, no plantio direto esse valor é no mínimo igual, sem o custo das operações. Além disso, com o plantio na palha, há maior segurança para o ecossistema. Não é uma invenção conservacionista, há lucros consideráveis”, aponta.
Esse é o segundo benefício, o ambiental. Por ser plantada em regiões de solos arenosos e, assim, mais frágeis e susceptíveis à erosão, a mantença da palhada previne erosões, perdas de carbono e matéria orgânica. “O plantio direto de mandioca permite a preservação da vida do solo, o maior patrimônio do produtor”, alerta o especialista em sistemas de produção voltados à agricultura familiar.
Entretanto, iniciar a prática exige certos cuidados. Rangel comenta que o produtor acostumado à rotação de culturas, sistemas de integração e consórcios terá uma resposta melhor à adoção, devido ao bom uso do solo. Já em áreas novas, se faz necessário avaliar o solo, observar níveis de degradação, eficiência em relação à fertilidade, compactação e outros fatores só obtidos após uma análise do solo, feita por um profissional especializado e credenciado.
Após essas medidas, a pesquisa recomenda iniciar o plantio direto em parcelas da propriedade. A mesma observação vale para o plantio de variedades ainda não testadas ou indicadas para o solo. “É iniciar devagar e na próxima safra o agricultor terá mais garantias e informações para investir”, sugere Rangel. Ele aproveita e conta que para a região de Mato Grosso do Sul há variedades para indústria disponíveis, testadas e aprovadas pela pesquisa. BRS CS 01 e BRS 420 são para os Estados do Centro-Sul (MS, SP, PR, SC e RS) e está por vir as BRS Ocauçú e BRS Boitatá.
Para facilitar o manejo ainda há plantadoras, de fabricação nacional, e a custo acessível. O maquinário para plantio direto possui componentes específicos que afofam a terra, de forma a permitir que as raízes da mandioca se desenvolvam adequadamente e todo o potencial da cultivar seja explorado.
Esta tecnologia, junto com os as últimas inovações para a cultura do capim Capiaçu, entre as quais, os equipamentos próprios para plantio estão sendo apresentados na edição 2022 da Tecnofam – Tecnologias e conhecimentos para a agricultura familiar – em forma de dinâmicas. A feira acontece esta semana em Dourados (MS). E se encerra nesta quinta-feira (dia 15).
Em uma roda de conversa com a Comunidade Quilombola de Maracaju (MS), que fornece produtos para merenda escolar, Marco Rangel falou sobre o lançamento de uma variedade de mandioca e sobre as diferentes possibilidades de preparo para o produto ser mais atrativo para as crianças e também comercializado, como o chips de mandioca e a produção artesanal de cerveja de mandioca, testada e aprovada por mestre-cervejeiros catarinenses. (Com informações da Embrapa)