Visando aumentar a capacidade de processamento de raiz, desenvolver e lançar novos produtos e aumentar as exportações, o grupo empresarial GTFoods investiu quase R$ 50 milhões e adquiriu mais uma fecularia, agora no Mato Grosso do Sul. Com a aquisição da Amidos Mundo Novo, o grupo passa a ter quatro unidades: uma em Cianorte e outra em Quatro Pontes, da antiga Lorenz, uma em Paranavaí, adquirida da Família Pratinha, a CM3 e agora a de Mundo Novo. Juntas elas processarão cerca de 25 mil toneladas/mês, tornando-se numa das maiores transformadoras de mandioca em fécula do país.
A intenção de aquisição foi anunciada no ano passado, quando, ao adquirir a CM3, a empresa manifestou a intenção de ter mais duas fecularias. “Nosso planejamento estratégico prevê até 2030 o grupo ter mais uma planta industrial, porque queremos que 60% do faturamento seja de mercado externo”, revela o gerente corporativo de Novos Negócios do grupo, Aleksandro Barboza Siqueira.
Em 2015, a GTFoods investiu R$ 38 milhões na aquisição da massa falida da Lorenz. Dois anos depois foram feitos investimentos para aumentar a capacidade e melhorar o desempenho das duas indústrias. Com isso, o faturamento anual quase dobrou, passando de R$ 55 milhões para R$ 100 milhões e passou a operar em sua capacidade total – a ociosidade era de 60%.
PANDEMIA E APRENDIZADO – Os investimentos pararam na pandemia da Covid-19, que foi um período de aprendizado. “Aprendemos e reaprendemos muita coisa”, diz ele. Na época, abriu-se para o grupo “novos mercados, especialmente o não alimentício. O mercado de papel ajudou muito na pandemia por conta da crise nas embalagens, o mercado de dextrina, mercado de misturas, mercado de adesivo puxaram as vendas, em volume e preço, porque em determinado momento da pandemia entrava no Brasil muitos produtos da Europa e da Ásia. Com a crise internacional e a crise da batata na Europa o Brasil passou a ser o pulmão para a América Latina e também para os Estados Unidos e Europa. Então, de importador o Brasil passou a ser exportador para a Europa e os EUA”, justificou.
Quando decidiu pela aquisição da terceira unidade, a GTFoods passou a procurar uma fecularia que estivesse em condições de ser rapidamente certificada para ser competitiva no mercado internacional. O grupo precisava agir rápido pois “o volume de vendas estava maior que a capacidade de produção”, segundo o gerente. Investidos R$ 20 milhões na aquisição da CM3, que ampliou em 10 mil ton/mês a capacidade de processamento de mandioca. “Quando a gente fala desse volume, não é só o produto a base de mandioca, não é só fécula, é o modificado (para o mercado de lácteo, de temperos, mercado frigorificado, de panificação, que é grande consumidor de modificado).
NOVOS MERCADOS – A GTFoods está apostando forte na exportação. Siqueira diz que a Europa está tendo uma grande demanda por produtos clean label (alimento saudável com uma rotulagem clara e enxuta), como é a maioria dos produtos à base de mandioca. “Temos muitos clientes na Europa, que estão deixando de trabalhar com batata e estão trabalhando com mandioca, porque são tubérculos muito parecidos em termos de aplicação e em termos de demanda do consumidor de produtos clean label”, conta.
Segundo ele, para avaliar o tamanho do mercado externo, o grupo empresarial contratou uma consultoria de inteligência de mercado mundial, que mapeou o tamanho e quais as tendências de aplicações para os próximos anos. Após receber o resultado a GTFoods comparou as oportunidades com a capacidade de produção e constatou a necessidade de ampliar o poder de processamento. “Percebemos que tinha demanda e não tinha capacidade de ofertar”, percebeu.
Outra frente é o mercado não alimentício, principalmente as grandes processadoras de papel no Brasil, com dextrina, misturas e com adesivos vegetais. Além disso o grupo quer atender mercado de oil and gas (extração de petróleo), mas também não tinha capacidade de produção. Segundo o gerente, a meta do grupo é ser líder do mercado alimentício de processamento de raiz e líder no mercado de produtos não alimentícios.
NOVA FECULARIA – Com capacidade de processar 10 mil ton/mês e localizada no Mato Grosso do Sul, onde a concorrência por matéria-prima é menor, a Amidos Mundo Novo (que era fornecedora de fécula para ser modificada pelas unidades da GT) inaugura também uma nova forma de atuação da empresa. Cerca de 400 pequenos produtores, divididos entre Mundo Novo e Eldorado, estão sendo incentivados e apoiados no plantio de mandioca. “É um trabalho socioeconômico. A gente não está pensando só em faturamento, mas também nesse trabalho de fomento e incentivo ao produtor rural”, anuncia.
Além das parcerias com pequenos produtores do MS, o grupo começou este ano a plantar suas próprias lavouras. Já plantaram na região de Umuarama e de Cianorte. A empresa contratou um agrônomo para orientar no manejo da lavoura e procurar áreas de arrendamento para fazer parceria com o produtor.
Esta parceria, informa Siqueira, é através de concessão de “subsídio financeiro para ele plantar. E aí vamos fazer a joint-venture com os produtores. Vamos ter a parceria em que 50% da despesa é nossa e o resultado é 50% nosso e 50% do produtor. Vamos garantir que a gente vai comprar a raiz a preço de mercado. O objetivo é até 2030 ter entre 40% e 50% de produção própria”.
Ter a metade da necessidade de matéria-prima vindo de lavouras próprias foi um dos caminhos encontrados pela empresa para enfrentar a redução de oferta de raiz. “Nossa expectativa é que no segundo semestre de 2023 teremos um nível de oferta maior, mas a gente vem se preparando há um ano em manter o nível de estoque justamente pra gente não depender 100% da oferta de raiz”, explica.
Além das lavouras próprias, outras iniciativas para enfrentar a redução de oferta da raiz é ter estoques de fécula para seis meses para ter condições de passar um ciclo de desabastecimento, melhorar a capacidade de extração na fábrica, melhorar o desempenho de rendimento e extração, fidelizar produtores e disponibilizar terra ao produtor atual que tiver interesse em expandir.
META – A GTFoods quer chegar a processar 32 mil ton/mês. Para isso até 2027 pretende comprar a quinta fecularia e investir na planta de Cianorte para aumentar sua capacidade.
Com mais matéria-prima e maior capacidade de fabricação, a empresa quer ampliar a produção de amidos que já produz e comercializa e investir em novas formulações. “Vamos ampliar aquilo que já fazemos, porém vamos dar um enfoque para a dextrina e amidos pré-gelatinizados. E vamos focar em produtos (raiz) orgânicos no mercado interno e externo, principalmente o europeu”, diz Siqueira.
Sobre a produção de produtos com a mandioca orgânica, o gerente explica que no Brasil “é um mercado pequeno, mas ele cresce dois dígitos ao ano, mas na Europa já é um mercado consolidado”. A mandioca orgânica será utilizada na produção de maltodextrina e amido pré-gelatinizado.
Também é meta da GT exportar 50% de sua produção. Mas a intenção não é exportar fécula, que é um produto de baixo valor agregado. “Nosso objetivo é transformar a fécula em produtos de valor agregado, inclusive modificados de alto valor agregado como a maltodextrina e pré-gelatinizados, para atender mercados específicos”, explica, lembrando que alguns dos modificados chega a agregar três vezes mais o valor da fécula.
ABAM – Para reverter o processo de queda de produção, produtividade e renda, Aleksandro Siqueira diz que a alternativa é investir em pesquisa de novas variedades. “Estamos participando, junto com a ABAM (Associação Brasileira de Produtos de Amidos Modificados) e o SIMP (Sindicato das Indústrias de Mandioca do Paraná) do Fundo de Desenvolvimento da Mandioca (FDM) para financiar as pesquisas. A GTFoods tem iniciativa própria, mas ela depende da ABAM e do SIMP, que nos representa junto aos órgãos oficiais”, informa.
Sobre os investimentos na avicultura (a única atividade do grupo até 2015) e na cadeia produtiva da mandioca, o gerente de Novos Negócios afirma que o grupo empresarial quer diversificar. Ele sublinha que são dois focos: fortalecer a área de novos negócios, responsável pelas fecularias e investir na avicultura. “Temos linhas de CAPEX de investimento separadas para avicultura e para o setor de transformação de mandioca”, arremata Aleksandro Siqueira.