Considerada uma das culturas mais rentáveis do agronegócio, apesar do período médio de 15 meses do plantio até a colheita, a mandiocultura vem perdendo espaço nas lavouras de Marechal Cândido Rondon e microrregião. Embora tenha menos áreas cultivadas, a atividade gera boa rentabilidade ao produtor, uma vez que o valor da tonelada está na faixa de R$ 430. Em Marechal Rondon 800 alqueires são cultivados com mandioca, cuja produtividade aproximada é de 80 toneladas por alqueire.
O agricultor Jocimar Cozzler reside com sua mãe em uma propriedade de 11 alqueires localizada na Linha Esquina Guavirá, em Marechal Rondon, onde trabalha com milho, soja e mandioca. “Cultivo mandioca desde o ano de 2007 e nunca houve frustração. Já teve época de pouco dinheiro devido ao baixo preço ou pela queda de produtividade, contudo nunca aconteceu de ser registrado prejuízo justamente por ser resistente à seca e à chuva”, enaltece.
Ele lembra que o auge em termos de valores foi em abril de 2018, quando vendeu mandioca a R$ 600 a tonelada. O agricultor menciona que um valor bom na cultura da mandioca é quando a tonelada está cotada a 40% do salário-mínimo. A partir de 1º de fevereiro o salário-mínimo valerá R$ 1.045, no entanto, comenta o produtor, “dependendo do teor de amido é pago R$ 450 pela tonelada da mandioca. Porém, um desafio aos produtores é o custo da mão de obra, pois o manejo e a colheita são braçais, então o caso é ter mecanização para ajudar e quem sabe futuramente ampliar um pouco a área, pois hoje cultivo dois alqueires no sistema de rotação de culturas para quebrar o ciclo de doenças”, cita.
Na última semana Cozzler iniciou a colheita de uma variedade com 625 de amido. “Retirei cerca de 100 toneladas, sendo que a colheita deve ser finalizada nesta semana se o tempo permitir, com projeção de 170 toneladas na mandioca cultivada há um ano e quatro meses, ou seja, média de 85 toneladas por alqueire”, salienta.
RENTABILIDADE
Em entrevista ao O Presente, o técnico agrícola da Agrícola Horizonte e Horizonte Amidos e membro do conselho técnico da Associação Técnica das Indústrias de Mandioca (Atimop), Sigmar Herpich, destaca que o produtor é remunerado conforme o teor de amido da mandioca quando do ato da entrega. “O teor de amido é medido na fecularia e depende dos tratos culturais que o produtor teve e das variedades no momento da colheita. Atualmente nós pagamos de R$ 430 a R$ 440 ao produtor no teor médio de 22% de extração, o que é considerado muito bom por cobrir os custos de produção e gerar boa rentabilidade ao produtor”, ressalta.
Hoje, conforme Herpich, a região tem produtividade média de 80 toneladas de mandioca por alqueire, com ciclo aproximado de 15 meses. “Se pegarmos 80 toneladas ao valor de R$ 440 são em torno de R$ 35 mil de remuneração ao produtor por alqueire. Se for converter em sacas de soja, ainda assim é viável cultivar mandioca mesmo que o ciclo dure 18 meses”, enaltece.
Todavia, ele diz que a mandioca possui custo diferenciado devido à mão de obra, uma vez que muitas atividades exigem trabalho manual nas fases de capina e colheita. “É passível de ser colhida de oito a nove meses e alguns produtores fazem isso. O que possibilita a colheita de forma precoce é principalmente a escolha da variedade, mas nós temos o hábito de colher a mandioca no intervalo de dez a 16 meses de cultivo, o que coincide realizar a colheita no auge do teor de amido. Isso também favorece efetuar a rotação com a cultura do milho, mesmo porque os patamares do preço do milho induzem a entrada nessa cultura por também ser bastante rentável”, expõe.
PREÇO
Herpich enfatiza que 2020 está sendo um ano atípico, uma vez no auge da safra de 2019, de maio a julho, a tonelada era comercializada a R$ 350, depois reduziu a R$ 280 em setembro e chegou a R$ 460 a tonelada no mês de dezembro. “Esse comportamento ocorreu devido à produção, pois o Brasil colheu menos mandioca em 2019 do que nos anos anteriores. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 1,25 milhão de hectares foram cultivados com mandioca em 2019, quando no ano de 2018 o total foi de 1,35 milhão de hectares. O reflexo da diminuição da área cultivada foi a redução de produtividade na ordem de 11,2%. Em anos anteriores o Brasil colheu 23 milhões de toneladas, quando em 2019 foram colhidas 19 milhões de toneladas de mandioca”, compara o técnico agrícola.
De acordo com ele, a menor produção e o mercado achatado devido a uma economia difícil refletiram na cultura da mandioca. “Isso porque grande parte é utilizada no mercado do atacado e do varejo, contudo no final do ano houve recuperação. O papel e papelão, subprodutos da mandioca, são utilizados bastante nas embalagens de geladeira e eletrodoméstico, então houve evolução expressiva nas vendas, fazendo o preço aumentar”, aponta.
Conforme Herpich, a região Nordeste do Brasil, especialmente o Estado de Pernambuco, teve um ano de grandes colheitas. “No caso do Paraná a mandioca que inicialmente seria consumida pelas farinheiras foi para as fecularias, mas não em um índice elevado a ponto de pressionar os preços para baixo. Muito pelo contrário, fim do ano houve menor oferta e o preço acabou corrigido aos patamares que nós vemos hoje”, comenta.
PRODUTIVIDADE E APLICAÇÃO
A produtividade com a cultura da mandioca em Marechal Rondon e microrregião é considerada boa quando comparada às outras regiões do país. “Existe clima favorável e um solo muito corrigido, um solo nobre para a cultura da mandioca. Nossa produtividade é de pelo menos 80 toneladas por alqueire, cuja área ocupada com mandioca tanto no segundo ciclo como a área plantada no último ano soma 800 alqueires no município. Já tivemos áreas bem mais expressivas. Sabemos que hoje temos uma população rural muito menor do que nos anos anteriores e a distribuição difundida também para outras atividades, como avicultura e suinocultura, então houve diminuição na mão de obra disponível”, pondera o membro da Atimop.
Por outro lado, ele menciona que os 800 alqueires dão boa sustentação para a fecularia instalada no município. “Somos há alguns anos importadores de matéria-prima por não ter o suficiente no município. A Agrícola Horizonte e a Horizonte Amidos atuam em municípios do Mato Grosso do Sul e também fortemente na microrregião de Umuarama, onde se planta muita mandioca na sucessão de pastagens”, informa.
Segundo Herpich, o amido de mandioca do Brasil é ocupado em larga escala nos frigoríficos, na indústria da panificação e no papel. “No caso da Agrícola Horizonte e da Horizonte Amidos produzimos amidos modificados e atuamos em mercados diferenciados. Os amidos modificados são utilizados em uma série de aplicações, como molhos, achocolatados, iogurtes, portanto o setor alimentício é o que mais ocupamos dentro da Horizonte Amidos”, expõe.
DESAFIO
O técnico agrícola salienta que até pouco tempo atrás a Atimop era composta de associados do Paraná, entretanto, com a vinda de associados do Mato Grosso do Sul, houve mudança de nomenclatura. “As indústrias são associadas e quem participa de forma atuante das reuniões e dos experimentos realizados no campo experimental em Porto Mendes são engenheiros agrônomos e técnicos ligados à cultura”, relata.
De acordo com ele, o maior desafio hoje é a mecanização da colheita. “A oferta de mão de obra decresceu e deve diminuir mais ainda, principalmente braçal, que exige muito do trabalhador. Precisamos reconhecer que colher mandioca de forma manual em um período desse com clima quente não é para qualquer um. É urgente e a gente trabalha com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e com o Instituto Agronômico do Paraná (Iapar), bem como tem cooperação técnica da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste), para formalizar parcerias visando buscar uma colhedora de mandioca. Precisamos de uma máquina que faça melhor essa colheita. É preciso diminuir, mas não eliminar essa mão de obra. Entendemos que essa participação deve ser feita de forma mais nobre, não de modo árduo como ainda ocorre hoje”, frisa.
VIABILIDADE
Herpich afirma que o grande mercado no Brasil é o nacional, haja vista que o país é um grande consumidor de amido. “Normalmente somos importadores e não exportadores, porém no último ano, em função da economia em determinados períodos, fomos mais exportadores. Quando ocorre uma crise no Brasil a gente sente mais do que os setores que têm mercado externo presente no seu plantel de negócios”, ressalta.
Ele menciona que o proprietário da Agrícola Horizonte (Osvino Ricardi) acredita na cultura e entende ser interessante à região. “Embora tenha diminuído de área, nós acreditamos que há produtores com viabilidade de se manter na atividade, não só em virtude da remuneração, como também devido à segurança por sermos uma empresa sólida. A mandiocultura suporta os desafios do clima, é rústica e sobrevive a períodos de chuva e seca, então raramente ocorre frustração nesta cultura”, finaliza.
(fonte: O PRESENTE)