A criação de um fundo para financiar pesquisas da cadeia produtiva entrou no radar da Associação Brasileira dos Produtores de Amido de Mandioca (ABAM) depois de uma discussão, na última reunião da entidade, sobre a necessidade financeira do Grupo de Trabalho (GT) que atua para desenvolver uma colheitadeira para o setor.
Sugerido pelo diretor Ivo Pierin Júnior, que já participa de uma iniciativa dessas, o fundo seria formado com contribuições da indústria e de produtores com base nos valores de comercialização de mandioca.
O índice praticado pelo Fundeman, o Fundo para o Desenvolvimento da Mandiocultura, criado em 2015 no âmbito do Centro Tecnológico da Mandioca (Cetem), é de 0,1% sobre o valor comercializado, que é dividido entre comprador e vendedor: 0,05% cada um.
Para se ter uma ideia, considerando preço médio de R$ 450 a tonelada da raiz: 25 toneladas da mandioca (carga média de um caminhão) geraria um negócio de R$ 11.250,00. Deste valor, seriam descontados R$ 11,25 (R$ 5,65 do produtor e R$ 5,65 da indústria), que seriam destinados ao fundo.
GARGALO – A ABAM vai bancar parte das necessidades do GT da Colheitadeira de Mandioca para este ano. O valor de R$ 20 mil será rateado com o SIMP (Sindicato das Indústrias de Mandioca do Paraná) e a Atimop Associação Técnica das Indústrias de Mandioca do Paraná). Mas o valor total do projeto é de R$ 364,6 mil. “Precisamos descobrir fórmulas inteligentes para financiar as pesquisas sem onerar muito as indústrias”, defendeu o associado Gledson Pacheco, durante a reunião da ABAM na semana passada.
Para o presidente da Associação, Valter de Moura Carloto, o desenvolvimento de uma colheitadeira de mandioca é essencial para o setor. A colheita é considerada por ele como o “gargalo” do setor, já que 30% dos custos de produção da raiz estão relacionados ao processo de colheita.
FUNDEMAN – Claodemir Grolli, diretor do Cetem, conta que o Fundeman foi criado justamente pela demanda de financiar pesquisas, a maioria relacionada a colheitadeiras. Estas demandas eram encaminhadas para as indústrias. “Apareciam pessoas com um projeto em busca de financiamento. A ABAM financiou alguns, indústrias fizeram investimentos isolados, mas não havia nenhum controle do que foi investido e qual o resultado. O Fundeman veio para preencher esta lacuna”, explicou.
Conta que a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) proibiu o poder público (União, estados e municípios) de contribuir com estes fundos. Assim os recursos devem ser da iniciativa privada.
Grolli aprova a iniciativa da ABAM de buscar alternativas para financiar as pesquisas do setor. Lembra que somente a região de Paranavaí poderia contribuir anualmente com cerca de R$ 450 mil por ano para o fundo. “A região produzi cerca de um milhão de toneladas de mandioca ao ano. Considerando o preço médio de R$ 450,00 a tonelada e o percentual de 0,1% chegaremos aos R$ 450 mil”, diz ele.
Mas não é só isso, diz o diretor do Cetem. “Este fundo poderia ser aberto a participação de empresas fornecedoras do setor, como as que comercializam tratores e equipamentos agrícolas. Elas poderiam contribuir na venda destes equipamentos para o setor. Chegamos a sondar algumas empresas na época e elas acenaram positivamente”, revela.
Para Claodemir, o segredo do sucesso do fundo é a formação de um conselho gestor dos recursos. Segundo ele, no Fundeman, o presidente ou o tesoureiro não podem autorizar nenhuma despesa sem antes receber a aprovação do Conselho Gestor. “E tem mais: as decisões devem ser por consenso. Não pode haver voto contrário”, explica, para em seguida justificar que a medida visa evitar interferências externas.
O Fundeman, em parceria com outras instituições, já financiou pesquisas da Embrapa, IAPAR e IFPR. “O dinheiro pode financiar novas variedades, equipamentos, servir como contrapartida em projetos financiados por outras instituições, enfim, de qualquer iniciativa que vise o desenvolvimento do setor, inclusive na área de ensino, com cursos e capacitações”, defende Grolli.
Ele aponta, inclusive, alternativas para beneficiar diretamente os que contribuem com o fundo. Como exemplo, cita que a indústria poder pagar royalties de uma colheitadeira desenvolvida com recursos do fundo ou dar desconto direto para os associados do fundo.
PROFISSIONALIZAR MAIS – O Fundeman já arrecadou em cinco anos cerca de R$ 200 mil. Isto porque tem apenas uma indústria participando. “Imagine se fossem 10 empresas, seriam R$ 2 milhões arrecadados”. Segundo ele, ainda falta o setor descobrir mais profundamente a importância da pesquisa para o seu desenvolvimento. “É preciso ter consciência de utilizarmos cada vez mais a tecnologia. Temos que profissionalizar mais o setor”, defende.
Grolli lembra que o Governo Federal instituiu uma lei que funciona como a Rouanet, só que o contribuinte em vez de destinar parte do que vai recolher de imposto de renda para a cultura, manda para o desenvolvimento de pesquisas. “Isto vai facilitar muito a captação de recursos”, acredita.
Para Grolli o investimento em pesquisa tornará o setor mais competitivo. “Hoje praticamente todas as culturas competitivas estão mecanizadas e melhorando a produtividade. E isto é fruto de pesquisa”.
Ele sugere a formalização de convênios com a Embrapa. “Esta é uma tendência, o Governo vai reduzir os recursos em pesquisa, continuará fornecendo pesquisadores altamente qualificados e os demais custos serão por conta da iniciativa privada”, aponta Grolli.