A expectativa de fechar o ano com uma produção nacional de 550 mil toneladas de fécula de mandioca não vai se confirmar. Uma série de fatores, entre elas, a seca (que provocou a queda de produtividade e adiou a colheita) e a macroeconomia nacional, que se recupera a passos muito lentos, não permitirão a confirmação das previsões feitas no final de 2018 para a produção do ano seguinte.
Foi o que mostraram as informações divulgadas pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (CEPEA/USP) para os associados da Associação Brasileira dos Produtores de Amido de Mandioca (ABAM), durante a reunião ordinária da entidade. Na ocasião o economista Fábio Isaias Felipe, pesquisador do CEPEA, mostrou a conjuntura e perspectivas de mandioca e derivados. A expectativa era de a indústria brasileira de amido de mandioca produzir 550 mil toneladas de fécula. Mas não deverá chegar a 500 mil toneladas.
Segundo ele, ainda há incertezas em relação à cadeia produtiva da mandioca para o próximo ano. Mas há indícios de melhora do setor para 2020.
Ao abrir a reunião, o presidente da ABAM, Valter Moura Carloto, disse que o setor está com o “mercado nervoso”, em razão das muitas incertezas. Conforme dados do CEPEA a situação futura é, ainda, imprevisível, mas já pode melhorar porque a seca atrasou o plantio em muitas das regiões, e possivelmente, a retomada dos trabalhos poderá ser prioridade com a regularização das chuvas. A seca ainda derrubou a rentabilidade e muitos produtores optaram pela poda, e agora devem voltar a ofertar entre novembro e fevereiro, a depender da rentabilidade.
“O que a gente tem observado é que houve uma queda substancial na oferta de raiz de mandioca e ela acabou influenciando as altas dos preços. Então a indústria neste momento está tendo até dificuldades em avançar no processamento e, consequentemente os estoques vem caindo de uma forma bastante acelerada”, explicou Felipe.
A seca, no entanto, não é a única responsável pela falta de matéria-prima para as indústrias. “Há outros fatores, conjunturais mesmo, no qual o produtor tem avaliados a rentabilidade da mandioca – o produtor vê que ele já está tirando dinheiro do bolso para trabalhar, consequentemente ele diminui o ritmo de comercialização”.
Uma das preocupações é que por conta da seca haja uma queda da produtividade. “A seca, que tem sido intensa em algumas regiões, pode afetar a produtividade agrícola, inclusive para essas raízes mais novas que foram cultivadas este ano. As que foram cultivadas em 2018 a gente já vê problemas pontuais mesmo”, diz o pesquisador do CEPEA.
Fábio Felipe afirma que, para 2020, “ainda tem um quadro pouco incerto. O que a gente tem diante mão, é que as lavouras implantadas este ano elas podem não responder em produtividade, isso pode acarretar em menor produção”, o que pode elevar os preços da fécula. “até porque a indústria poderá carregar menos estoque de um ano para o outro. E outro ponto, as indústrias tem tido alguma dificuldade na reposição destes estoques. Vale ressaltar ainda que na ponta compradora os estoques também são baixos”.
Ainda há a expectativa de aquecimento da economia brasileira, o que pode influenciar o mercado da fécula de mandioca. “Já tem uma série de estudos que mostra a correlação da fécula em relação ao crescimento da economia. Então certamente o PIB deve dar uma acelerada e isto ter como resultado uma melhora na comercialização de fécula”.