Neste artigo, abordarei um dos temas mais importantes para o uso agrícola dos solos da Região Noroeste do Estado do Paraná: a água. Precisamos da umidade no solo para plantarmos, para garantimos o bom desenvolvimento das plantas, da formação de raízes que acumularam o amido, e por fim, para a colheita proveitosa das raízes.
Estamos acostumados a vermos reportagens informando que a estiagem por faltas de chuvas – os veranicos – diminuíram a oferta de raízes de mandioca por não possibilitarem a sua colheita. Ou, pior ainda, que sucessivos veranicos prolongaram a estiagem e comprometeram a produtividade dessa cultura, principalmente em solos mais arenosos.
Não seria fantástico se os mandiocultores soubessem a quantidade de água que os nossos solos têm o potencial de armazenar, em função da quantidade de areia, para depois disponibilizar as plantas de mandioca? Isso é possível após a caracterização das curvas de retenção de água feita para a nossa região (Figura 1).
Imaginem agora, podermos ter a informação da variação da quantidade dos solos que cultivamos com mandioca (por exemplo, de uma água em uma determinada lavoura de mandioca) bastando, para isso, termos os resultados das análises granulométricas dos solos dessa lavoura, levando em consideração apenas os teores de areia do solo.
Primeiro, vamos explorarmos melhor a figura 1. Nela pode-se observar nove curvas de retenção de água do solo, com os respectivos teores de areia à direita, com variação entre 55% a 91% de areia. À esquerda dessa figura, apresenta-se uma escala com os percentuais dos conteúdos de água no solo, em base volume, variando entre 0 e 40%, que internacionalmente seria expressa: 0 e 0,40 m3 m-3, ou seja, 0,40 m3 m-3 multiplicado por 100, igual a 40%. Assim, os extremos das cores das curvas variam as tonalidades entre azul (55% de areia) ao vermelho (91% de areia), significando que quanto maior o teor de areia (mais vermelho) menor será o conteúdo de água no solo.
Os resultados das análises granulométricas dos solos (argila, silte e areia) são emitidos também com a unidade (g kg-1), ou seja, 91% de areia corresponderia a 910 g kg-1 de areia. Atualmente existem informações sobre as transformações dessas unidades disponíveis na internete.
Agora explicarei o Conteúdo de Água Disponível (CAD) que está assinalado na parte superior da figura 1. Esse termo técnico é utilizado agronomicamente como critério técnico da quantidade de água armazenada nos solos, ou seja, sinaliza o quanto de água está disponível no solo para as plantas absorverem pelas suas raízes. Vejamos o intervalo no eixo inferior dessa figura, que varia entre 1 a 150 mca (metro de coluna de água), sendo essa unidade correspondente a força que a água estaria sendo retida pelas partículas do solo; seja argila ou matéria orgânica. Essa mca poderá ser convertida para outras unidades de pressão disponíveis na internete, bem como para outras unidades de pressão, por exemplo: kPa, mmHg, etc. A utilização dessa unidade na figura 1 foi utilizada por ser mais didática.
Dando continuidade, vamos ampliar a discussão conceitual do CAD. Não se considera a água entre 0-10 cm de coluna porque seria aquela água em excesso, que encharcaria o solo durante uma chuva, sendo drenada naturalmente pela força da gravidade. Também não se considera os conteúdos de água no solo acima de 150 mca porque as plantas já estariam em estado de estresse hídrico, gastando muita energia para tentarem absorver essa água do solo. Um exemplo bem prático dos momentos em que solo teria água acima de 150 mca ocorrem durante os veranicos, quando os pastos estão com as folhas murchas, evoluindo para folhas secas.
Assim, o CAD que caracteriza a diferença entre os conteúdos de água correspondentes à Capacidade de Campo (CC) e o Ponto de Murcha Permanente (PMP) dos nossos solos {CAD = [CC – PMP]} é de 10% para qualquer teor de areia entre 55% a 91%. Isso significa, na prática, a lâmina de 1 mm de água para 1 cm de espessura do solo, ou seja: em um perfil de 1 m de solo, teríamos uma lâmina de água de 10 cm. Essa capacidade de armazenamento de água dos nossos solos é baixa comparada aos solos argilosos.
Então, se o CAD é praticamente igual para qualquer teor de areia no Arenito Caiuá, do Noroeste do Paraná, porque os solos com maior teor de areia secariam mais rápido? Esse questionamento tem resposta na figura 1. Os leitores poderão verificar que a cada aumento da pressão da água retida entre 1 mca a 150 mca, a redução do conteúdo de água é maior com o aumento do teor de areia. Isso, tecnicamente, significa que quanto mais areia no solo, mais rápido é o seu secamento.
Um exemplo prático (porém ainda não publicado) é das avaliações da água no solo realizadas durante as safras agrícolas de 2016/2017 e 2018/2019, em experimento de mandioca, na Estação Experimental, no Polo Regional de Pesquisa Paranavaí do IDR-Paraná. Os resultados comprovaram maiores frequências relativas de umidade dentro do CAD em plantio direto de mandioca quando comparados ao plantio convencional sobre o pasto de braquiária Brizantha.
Dessa forma, a mensagem que este artigo procura passar é que é sim possível evoluirmos para uma mandiocultura conservacionista em solos arenosos nas reformas de pastagens no Noroeste do Paraná, restabelecendo as funções do solo em armazenar e disponibilizar água para as plantas. Isso tudo com o desenvolvimento de mais pesquisas de manejo do solo e da água para a cultura de mandioca na nossa região.