As fecularias do Brasil têm como desafio ampliar a produção dos atuais 500 a 600 mil toneladas de amido de mandioca por ano para 2 milhões de toneladas/ano.
A afirmação é do presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Amido de Mandioca (ABAM), Valter de Moura Carloto, e foi feita durante a reunião comemorativa dos 30 anos da entidade. A meta de produzir 2 milhões de toneladas de fécula foi estabelecida quando a Associação foi fundada por seu primeiro presidente, Maurício Yamakawa. Este era o volume produzido à época pela Tailândia, maior produtor mundial de amido de mandioca. Naquele tempo, o Brasil produzia apenas 10% deste quantitativo, ou seja, 200 mil toneladas. Mas em 15 anos passou para 750 mil toneladas. Atualmente, a produção nacional anual está entre 500 e 600 mil toneladas.
Para Carloto, se houve um avanço significativo no período – mais de 3,5 vezes em quinze anos – é possível atingir a meta traçada a época. “Não podemos parar, não podemos estacionar na zona de conforto. Devemos nos inspirar nos exemplos do passado para construir um futuro melhor para o setor”, defendeu ele.
A reunião comemorativa dos 30 anos da ABAM aconteceu na última sexta-feira, dia 21 (o aniversário aconteceu no dia 19) por videoconferência e além de diretores e associados da ABAM, participaram também os do Sindicato das Indústrias de Mandioca do Paraná (SIMP). O encontro reuniu, ainda, convidados como o deputado federal Filipe Barros, do Paraná, representantes de entidades parceiras, como Embrapa, IAC, IAPAR e CEPEA e co-irmãs como a Câmara Setorial da Cadeia Produtiva de Mandioca e Derivados e a ATIMOP. O secretário de Agricultura do Paraná, Norberto Ortigara, encaminhou mensagem em vídeo cumprimentando a entidade, seus fundadores, diretores e associados e, como os demais, destacando a importância da ABAM para o setor.
Aliás, em suas manifestações, Yamakawa, Lucílio Alves (CEPEA), Alberto Duarte Vilarinhos (Embrapa Mandioca e Fruticultura), Mário Takahashi (IAPAR), Valdemir Antônio Peressin (IAC), Oswaldo Zanqueta (Câmara Setorial da Cadeia Produtiva da Mandioca e Derivados, Guido Bankhardt (SIMP), Sigmar Herpich (ATIMOP, o diretor Roland Schurt e os ex-presidentes Ivo Pierin Júnior e Eduardo Pasquini, apontaram a importância da ABAM para o crescimento e o fortalecimento da cadeia produtiva. Um dos oradores disse que “não consigo imaginar o setor sem a ABAM” e outro foi enfático: “o crescimento do setor se deve em grande parte à ABAM”.
SETOR ÀS CEGAS – Carloto iniciou seu pronunciamento manifestando gratidão aos associados e diretores por confiarem a ele e o apoiarem na presidência da entidade. Lamentou que a comemoração não pode ser presencial por conta da pandemia, mas ressaltou que isto “em nada diminui a importância destes 30 anos de muita labuta, perseverança, dedicação de companheiros que buscam, incansavelmente, o desenvolvimento do setor”.
Citou que o setor tem se preocupado desde a produção da matéria-prima no campo até a qualidade do que é produzido com o amido e que esta prática “nos deu um grande ganho de mercado. Mas reconhecemos que nem sempre foi assim. Por isso, é justo que façamos uma homenagem aos pioneiros na iniciativa de organizar, mobilizar e travar uma labuta incessante pela modernização de nossa cadeia produtiva”, afirmou.
Depois de citar os ex-presidentes e creditar a eles os méritos pelo avanço que o setor teve nos últimos anos, Carloto disse quer para entender esta odisseia “precisamos fazer uma viagem ao passado”. E citou informação do primeiro presidente, Maurício Yamakawa de que o setor vivia às cegas. “Não havia levantamento do que se produzia de fécula no país, qual era a capacidade instalada das indústrias brasileiras, quando se tinha em estoque, qual era a produção das lavouras de mandioca e tanto outras informações”.
Lembrando que atualmente o trabalho é realizado pelo CEPEA, o presidente questionou: “E lá no final dos anos 80 e começo dos anos 90, como era que nossos companheiros tomavam decisões se não tinham estas informações? Pois é, um dos primeiros levantamentos realizados na época – talvez o primeiro – foi o de estoque e não foi nenhuma instituição que fez. Foi o então presidente Maurício Yamakawa em sua primeira gestão. Imagino ele ao telefone, falando com indústria por indústria fazendo o levantamento. Acho que este fato ilustra bem como era o setor 30 anos atrás”, relatou.
OUTRAS CONQUISTAS – Além dos avanços destas pesquisas, Carloto destacou o crescimento da produção e atribuiu isso a um dos principais embates travados pela ABAM. “Apesar de todas as dificuldades, das lavouras serem cultivadas de forma rústica e artesanal, sem nenhuma tecnologia e nossas indústrias de fécula ainda engatinhando, disputando mercado com o amido de milho, a mobilização da época foi algo espetacular: viramos assunto nacional, brigamos – numa briga quase que desleal – com o organizadíssimo setor do trigo pela adição da fécula na farinha de trigo para panificação, ministros da Agricultura passaram a visitar as regiões produtoras e participar em Seminários Regionais do Setor, em 15 anos, saímos de uma produção nacional de 200 mil toneladas de fécula por ano para 788 mil ton em 2015, segundo os dados do CEPEA”, sublinhou.
O presidente ainda destacou os avanços nas pesquisas no campo, com o desenvolvimento de variedades com maior teor de amido, mais produtividade, resistentes a pragas e doenças, adequadas à indústria e adaptadas as condições de solo e clima de cada região produtora de mandioca.
Apontou que as indústrias investiram em tecnologia, no desenvolvimento de novos produtos à base de mandioca e “a aplicação do amido está se multiplicando ano após ano, passando pela indústria alimentícia, têxtil, de papel e celulose, nos fármacos e de cosméticos, e agora têm sido matéria-prima para embalagens biodegradáveis, substituindo o tradicional plástico, que vem de resíduo de petróleo e que agride o meio ambiente”.
Sobre a questão ambiental, Carloto lembrou que as fecularias estão deixando de consumir lenha em grandes quantidades, pois agora mantém lagoas anaeróbicas cobertas (biodigestor), “que evita o odor nas fábricas e também melhora a qualidade do lançamento dos efluentes aos rios e lagoas”, e passaram a produzir o gás metano para energia térmicas e suas caldeiras. “Estamos avançando rapidamente para que mais fecularias adotem a tecnologia de converter o biogás em energia elétrica e secagem direta da fécula, na tubulação do secador”, disse.
DESAFIOS DO FUTURO – Na parte final de seu pronunciamento, Carlotou centrou suas palavras no futuro. “Temos grandes desafios pela frente, como a mecanização integral da colheita, que é hoje o grande gargalo na cultura da mandioca, como forma de baixar os custos na lavoura, melhorar a remuneração ao produtor e tornar nosso produto mais competitivo no mercado interno e externo. Sim, a exportação de fécula tem que entrar na nossa pauta de prioridades. Há um enorme mercado pela frente, um potencial ainda maior a ser explorado”.
Ele ainda apontou como meta produzir mais mandioca por hectare, “aumentando a produtividade, com novas variedades, novos sistemas de plantio sustentável – o plantio direto está se consolidando”. E seguiu em seu pronunciamento: “temos, enfim, que mostrar ao Brasil e ao mundo que a mandioca é sim uma cultura nobre e uma opção viável para qualidade alimentar do mundo e também aplicável na indústria de química fina. Inclusive em 2020, a ONU declara a Mandioca como o alimento do Século XXI, por ser um ingrediente versátil e nutritivo, contribuindo para a alimentação de mais de 700 milhões de pessoas no mundo”.
Carloto chegou ao final de sua manifestação emocionado. “Tenho muita honra de ser o presidente e fazer parte deste pequeno, mas valente grupo de industriais com enorme capacidade de transformação de sonhos em realidade. Este é o nosso desafio: transformar sonho em realidade. E todos os sonhos serão transformados, porque o poder do trabalho, da criatividade, do comprometimento e do associativismo, supera qualquer obstáculo. E é o que estamos fazendo já há trinta anos e outras gerações virão, executando esses ideais, fortalecendo a construção do bem comum ao meio ambiente, produtor, industrial e consumidores finais”.