A pedido da Associação Brasileira dos Produtores de Amido de Mandioca (ABAM), a Embrapa Mandioca e Fruticultura vai apresentar um projeto para desenvolvimento de variedade geneticamente editada. O acordo entre as duas instituições foi acertado durante reunião da ABAM nesta quinta-feira (01), em Maringá, da qual participou o chefe da unidade de pesquisa, Francisco Ferraz Laranjeira.
A possibilidade de desenvolver a mandioca editada, foi apresentada pelo próprio Laranjeira durante sua palestra sobre “Pesquisa e Inovação para a Mandiocultura Brasileira”. Foi a primeira vez que ele participou da reunião da ABAM desde que assumiu a chefia-geral da Embrapa Mandioca.
Na opinião do pesquisador, as prioridades para o setor são a colheita mecanizada da raiz, a indexação de material de plantio para assegurar ramas de qualidade genética e fitossanitária e modificações genéticas para o melhoramento da mandioca. Foi este último item que mais chamou a atenção dos agroindustriais, que há anos buscam soluções para a falta de mão-de-obra, principalmente na capina. Além disso, os protótipos de colhedeira que estão sendo testados exigem uma lavoura limpa de ervas daninhas. Modificações genéticas poderiam criar uma espécie de mandioca resistente a herbicida.
Até então, a solução apontada seria uma variedade transgênica, mas que enfrenta resistência de parte do setor e das instituições de pesquisa. Segundo Laranjeira, a mandioca geneticamente modificada, chamada de transgênica, em tese é uma possibilidade, mas tem grandes dificuldades, pois a atual legislação brasileira dificulta trabalhos com espécie nativa, como é o caso da mandioca, há um alto risco de não aprovação na fase de desregulamentação, ainda não se sabe como o mercado reagiria e poderia arranhar a imagem do setor, que hoje tem um grande apelo por ser um alimento saudável. “Não sei se o rótulo de transgenia poderia prejudicar a imagem do setor, mas é um risco”, disse Laranjeira.
Ele explicou que a transgenia se caracteriza pela introdução de uma sequência genética na planta. Já a edição genética é “desligar” pontualmente parte da sequência genética da própria planta. Esta técnica não se caracteriza como transgenia, portanto fica fora da legislação sobre o tema, é mais rápida o seu desenvolvimento em relação aos transgênico, principalmente se a edição foi realizada numa variedade já consagrada e o custo da pesquisa também é bem menor.
REPERCUSSÃO – A possibilidade de o setor ter uma variedade resistente a herbicida repercutiu imediatamente entre os associados da ABAM. O presidente Paulo Lopes disse que não vê o setor prosperar sem alguma modificação – edição ou transgenia – que torne a planta da mandioca resistente a herbicidas. Sua opinião foi compartilhada pelo diretor João Eduardo Pasquini, que reforçou que, sem a colheita mecanizada “o setor acaba” e esta mecanização passa por áreas livres de ervas daninhas e não há mão de obra para as capinas.
Foi ele quem levantou a possibilidade de a Embrapa apresentar uma proposta para o desenvolvimento de uma variedade editada, contendo, entre outras informações, estimativa de custo e de tempo para ter esta espécie.
Laranjeira e o Eduardo Chumbinho de Andrade, chefe adjunto de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação aceitaram o desafio e apontaram a possibilidade de em 90 dias ter alguma proposta. Este tempo é necessário porque serão envolvidas outras unidades da Empresa, como a de Agrobiologia, de Recursos Genéticos e Biotecnologia e até a Embrapa Soja, que tem experiência com a edição gênica.
COMITIVA DA EMBRAPA – Além de Laranjeira e Chumbinho, participaram da reunião da ABAM, o chefe-adjunto de Administração da Embrapa Mandioca e os pesquisadores Francisco Alisson da Silva Xavier, Rudiney Ringenberg e Marcelo Romano.