Dentro das possibilidades futuras de colaboração entre a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) e a cadeia produtiva da mandioca, através da Associação Brasileira de Produtores de Amido de Mandioca (ABAM) está a de desenvolver um projeto de indexação de material de plantio. A proposta foi apresentada pela empresa na última reunião da Associação e ter por objetivo garantir e ofertar ao setor ramas de qualidade genética e fitossanitária. A intenção é indexar e fazer a multiplicação rápida das manivas.
A proposta apresentada pelo chefe adjunto de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação da Embrapa – Mandioca & Fruticultura, sediada em Cruz das Almas (BA), Francisco Ferraz Laranjeira, prevê o desenvolvimento e o investimento compartilhado do projeto. A Embrapa espera manter e reforçar seu orçamento com a participação da iniciativa privada.
Segundo o pesquisador Marco Antonio Sedrez Rangel, da Embrapa e que conduz trabalhos de pesquisa de sistemas de produção da mandioca, “o processo de indexação é fundamental para que se consiga ter o monitoramento de como está indo o material, se está se contaminando no campo, o que está acontecendo. Este monitoramento é para ver se o material está se mantendo limpo de vírus”.
Ele lembra que quando a Embrapa faz seus editais de oferta pública, sempre é de “materiais testados e certificados”, ou seja, indexado, “sem aqueles vírus que são mais comuns na nossa região, que é principalmente o vírus do mosaico comum”.
GARGALO – Para o chefe-geral da Embrapa Mandioca & Fruticultura, Alberto Duarte Vilarinhos, que também participou da ultima reunião da ABAM, a questão da semente é “um dos gargalos do sistema de produção de mandioca”. Ele explica que, como a semente é replantada sistematicamente ao longo de muitos anos, “ela vai acumulando também sistematicamente doenças, que às vezes são invisíveis, não tem sintomas, mas que reduz a quantidade de mandioca. A gente tem estudos que falam em 20, 30% de redução – isso de plantas assintomáticas”.
Vilarinhos diz que esta é uma questão “que a gente pode resolver se tivermos um sistema de produção de sementes de qualidade genética e sanitária identificados”. Ele diz que atualmente é comum dois materiais diferentes ter o mesmo nome ou dois materiais iguais com nomes diferentes. “Acontece de tudo”, diz.
“Então temos que profissionalizar isso, caracterizar os materiais e ter certeza que, aquilo que nós estamos colocando no chão, que é a base da nossa produção, que é a semente de mandioca, a maniva, ela tem qualidade genética e fitossanitária adequadas de uma semente, como tem a semente de milho, da soja, do algodão, toda semente tem uma exigência fitossanitária. E em mandioca falta ainda esse elo da cadeia que é básico e fundamental”, reforçou o chefe da Embrapa Mandioca e Fruticultura.
Além de doenças conhecidas no Brasil, chamadas de invisíveis, por serem assintomáticas Vilarinhos lembra que existem outras ameaças, como “doenças que não estão no país, mas que se chegarem no Brasil, se a gente não tiver um sistema de produção de semente adequado, garantido, seria um forma de ampliar a entrada e a disseminação dessas doenças pelo país para a qual a gente não tem nem controle”.
A indexação proposta, resume Vilarinhos “seria uma forma de a gente garantir aumento de produtividade, segurança ao produtor, não só segurança de produção em função daquilo que ele está plantando, mas até de possíveis chegadas de doenças que não existem no Brasil, mas que rondam nosso país e que são ameaças para o futuro”.
PESQUISA APLICADA – Sobre a participação da iniciativa privada no orçamento da Embrapa, Vilarinhos avalia que o fato vai ajudar a dar foco nas pesquisas da empresa. Na sua avaliação, o pesquisador tem um ponto de vista que pode ser diferente da do produtor, “que lida no dia a dia com a cultura. Então essa união entre o ponto de vista do produtor e a capacidade dele de enxergar problemas, que o cientista, pela sua natureza e pelo tipo de trabalho que desenvolve, não tem condição de perceber, é fundamental para dar foco e ajuda que esse resultado seja o melhor possível no trabalho do especialista”.
É o que se chama de pesquisa aplicada, “direcionada, compreendendo o ponto de vista científico do pesquisador e o ponto de vista mercadológico, do dia a dia na lavoura, nas dificuldades. Isso ajuda a construir um resultado focado e muito mais eficaz no final, na entrega que a pesquisa tem que fazer. Acredito nisso!”, finalizou Vilarinhos.