Em uma área de 60 hectares, em São Pedro do Turvo, na região do Médio Paranapanema, interior paulista, pesquisadores testam em campo novas variedades de mandioca que vão revolucionar o cultivo da rama para a indústria. Eles buscam uma planta de ciclo precoce, mais produtiva, resistente a pragas e doenças, com uma arquitetura mais ereta e que tenha pelo menos 1,20 metro de rama útil.
O material foi selecionado a partir de mais de 3 mil cruzamentos e posto cultivado em iguais condições. A partir do décimo mês de ciclo produtivo, são feitas coletas mensais de amostras para avaliar o teor de amido nas raízes. A BRS CS 01, uma das cultivares da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), tem 50% mais amido em relação às variedades mais plantadas. Atualmente, no primeiro e no segundo ciclo, o aumento chega a 100%.
“Identificamos quatro genótipos bem promissores e já estamos multiplicando a rama para lançamento futuro”, diz Rudiney Ringenberg, pesquisador da Embrapa Mandioca e Fruticultura, que lida com o experimento no campo.
A pesquisa é feita por essa divisão da Embrapa em conjunto com a Tereos Amidos e Adoçantes do Brasil, subsidiária da multinacional francesa conhecida no Brasil também pela sua atuação no setor de açúcar e etanol. A parceria foi formalizada no ano passado. A empresa disponibilizou a área onde são feitos os ensaios e os pesquisadores avaliam se a mandioca desenvolve os atributos procurados.
“Nosso processo de inovação está diretamente ligado à demanda de pesquisa do setor produtivo e da indústria. É importante que, além da parte de campo, nossos materiais sejam avaliados e que, antes de serem lançados, estejam testados e aprovados dentro da indústria”, explica Rudiney.
Novas cultivares devem estar no mercado em três ou quatro anos e ficarão à disposição de qualquer produtor ou empresa que queira utilizá-las. Mas como é parceira na pesquisa, a Tereos acaba trazendo para si uma vantagem competitiva: ter a mandioca melhorada em escala comercial e adaptada aos seus protocolos agronômicos e industriais.
“Temos a possibilidade de testar as variedades em nossas áreas e ver o que está mais adaptado. Quem quiser utilizar vai levar de dois a três anos”, explica Rodrigo Bueno, gerente da área agrícola e originação da Tereos Amidos e Adoçantes Brasil.
Demandando cultivares de maior rendimento no campo, a Tereos espera pelo menos 40% mais amido por hectare plantado. Segundo a companhia, essa evolução já tem sido verificada quando se compara a mandioca monitorada no ambiente e nas condições do experimento às variedades locais usadas em plantações da região.
“Estamos em busca de maior produtividade. Como não temos área própria, seria um redutor de custo”, explica Rodrigo Fortunato, diretor de operações agrícolas e fabricação da empresa.
O objetivo de obter uma mandioca precoce é reduzir o ciclo de desenvolvimento de 18 para 12 meses. Hoje, o plantio é escalonado: cerca de 3 mil hectares de maio a setembro de um ano e em torno de 2 mil no mesmo intervalo no ano seguinte. A precocidade visa melhorar a gestão da área e da produção. “Eu tenho esse amido dentro da raiz em menos tempo. Não preciso esperar um ciclo maior”, diz Rodrigo Bueno.
A mudança na arquitetura da planta visa facilitar o manejo das lavouras, onde está sendo implantada a mecanização da colheita. Até 2018, era tudo manual. Hoje, de 30% a 50% são mecanizadas ou semimecanizadas. O plano é ter máquinas colhendo tudo até 2020. “A fase é de experimento. Os equipamentos que estão no mercado estão em adaptação”, afirma Rodrigo Fortunato.
A Tereos cultiva mandioca em uma área total de 5 mil hectares. Tudo é arrendado. Do total da produção, 70% são próprios e os outros 30% vêm de fornecedores. Para favorecer a logística, as lavouras ficam em torno de 70 quilômetros distantes da unidade industrial, em Palmital (SP), que processa 100 mil toneladas da raiz por ano.
O diretor da região Brasil da Tereos, Jacyr Costa Filho, explica que esse formato garante segurança no suprimento da fábrica. Otimista em relação aos resultados da parceria da empresa com a Embrapa, ele acredita que o melhoramento será importante para dar mais competitividade à mandioca.
“Será importante para o desenvolvimento do negócio. Produtividade é o segredo de qualquer negócio. Saímos na frente e temos a possibilidade de tornar nossos fornecedores mais competitivos”, avalia. (Da edição on line da Revista Globo Rural)