Por anos, o empreendedor Thiago Artacho via o tio cozinhar tabletes de mandioca em casa, com uma receita própria. De acordo com ele, o preparo foi inspirado em um quitute que ele conheceu em uma reserva indígena, no litoral paulista. “Ele fazia em casa e vendia para bares e restaurantes. Chegou a ter 10 fogões, preparava, congelava, mas nunca colocou muita atenção”. Artacho via potencial na receita do tio, mas o próprio criador não queria saber de expandir a fabricação dos tabletinhos crocantes por fora e cremosos por dentro.
O empreendedor já tinha uma empresa de design para varejo, a Green Retail Solutions, em sociedade com Daniel Fernandes e Julio Eiras. Os três vinham pensando em formas de expandir as frentes de negócios e resolveram apostar na receita da família de Artacho. Em 2016, ele fez um acordo com o tio de pagar royalties pela receita e resolveu criar a Bendita Mandioca.
Nenhum dos sócios veio da indústria, então eles tiveram que aprender tudo na prática para colocar a marca no mercado. “Fomos buscar ajuda do Senai para entender como massificar o produto, produzir em escala. Depois de uma consultoria, abrimos uma fábrica em Vinhedo (SP)”, diz.
Como eles têm experiência com design, a primeira preocupação foi investir na marca e no visual, além do discurso do produto. As maiores dificuldades foram realmente ampliar a produção caseira para uma linha padronizada. “Aprendemos muito em processos produtivos, como o consumo de energia. Se tivéssemos um profissional da área industrial desde o início, atualmente estaríamos um pouco mais adiante. Levou um ano até entendermos isso. Hoje, conseguimos contratar alguém que cuida dessa área para nós.”
A dificuldade na escolha e no preparo das mandiocas, que os empreendedores viveram na pele, é uma das apostas para o apelo do produto. “Todo mundo consome batata frita, mas por que não mandioca, que é tão brasileira? A grande barreira é o preparo. Nem todas são macias, nem todas são cremosas, nem sempre encontramos o produto certo. Nós vendemos essa facilidade”, explica.
Hoje, a empresa vende em torno de 50 toneladas de tabletes por mês, em supermercados e redes atacadistas, e faturou R$ 3,5 milhões em 2019. A primeira rede a receber os produtos foi o Giga, em 2018 e a mais recente foi Grupo Pão de Açúcar, em 2020.
No ano passado, eles iniciaram estudos para exportação dos produtos em países como Estados Unidos, Japão e Portugal e, no segundo semestre, já chegaram a receber encomendas e enviar remessas para Canadá.
Os tabletes são vendidos congelados, em embalagens de 400 gramas com design inspirado na própria matéria-prima. Os preços giram em torno de R$ 12. Recentemente, eles passaram a oferecer também geleias como sugestões de acompanhamento para aumentar o tíquete médio.
Apesar de os supermercados terem registrado altas nas vendas durante a pandemia, a Bendita Mandioca sentiu os efeitos contrários: as vendas caíram cerca de 30% nos primeiros meses de quarentena. “Os grandes varejistas focaram muito na cesta básica, mas alguns clientes que já temos cativos mantiveram a compra. O restante voltou a atender a gente aos poucos agora.”
Com isso, a saída foi encontrar uma linha de contato direta com o cliente. Recentemente, os empreendedores implementaram um delivery próprio no site da empresa, com atendimento via WhatsApp. De acordo com Artacho, a demanda veio dos próprios clientes nas redes sociais da marca.
As vendas digitais já têm ajudado a Bendita Mandioca a recuperar o fôlego. Para este ano, o empreendedor espera um crescimento de 20% no faturamento. Além disso, novos produtos à base de goiaba devem ser incorporados ao portfólio nos próximos dois meses, o que pode ajudar a alcançar esse objetivo. “Com a pandemia, a gente acelerou os planos. Mais do que o faturamento, isso nos ajudou a entender o consumidor.”
As vendas digitais representam cerca de 5% do faturamento atualmente, mas a expectativa do empreendedor é que passem a ser 10% até o final do ano. Atualmente, as entregas são realizadas em São Paulo e na Grande São Paulo, e ainda em agosto devem chegar à região de Campinas, próximo à fábrica. “Para os próximos anos, a gente pretende expandir para outros estados, mas sempre em grandes cidades”. (Da edição on line da revista Pequenas Empresas Grandes Negócios)