Pensando em diminuir a quantidade de lixo plástico no meio ambiente para as próximas gerações, as amigas de longa data e empreendedoras Andressa Kasper e Karina Diehl se uniram para tirar um sonho do papel e criaram a Ankur. Localizada em Novo Hamburgo, no Rio Grande do Sul, a empresa tem como foco as embalagens de amido de mandioca e farelo de trigo que viram adubo.
A criação da Ankur surgiu após o incômodo das amigas, que se conhecem há 10 anos, com a quantidade de lixo produzido, a poluição e o consumo exagerado sem pensar nas consequências ambientais. A ideia se intensificou ainda mais quando Andressa se tornou vegetariana, e ao mesmo tempo começou a pesquisar sobre alternativas às embalagens plásticas.
A ideia da empresa é baseada no conceito de economia circular, ou seja: o que vem da terra volta para a terra. Com isso, após o uso, as embalagens da Ankur podem ser descartadas no lixo orgânico, composteira ou horta, e se transformam em adubo em até 180 dias.
Entre os principais impactos positivos da empresa na vida de outras pessoas e no meio ambiente está a redução da poluição gerada pelo plástico, substituindo os de uso único por alternativas ambientalmente corretas e voltadas à economia circular.
O nome Ankur vem do Hindu, que significa florescer. “Pesquisamos vários possíveis nomes para o projeto, mas esse é o que fez mais sentido para nós. Florescer em vários sentidos, como empresária, florescer esse projeto tão bonito, e também o Ankur tem o A de Andressa e o K de Karina, então fez todo sentido para nós”, explica Andressa Kasper, 37 anos, empresária formada em Comércio Exterior e MBA em Negócios de Impacto Socioambiental.
“E como as nossas embalagens depois de enterradas viram adubos, então florescer também significa isso né, que vai adubar a terra para florescer alguma coisa, florescer vida através da terra adubada por nossas embalagens”, completa Karina Diehl, 43 anos, empresária formada em Administração de Empresas.
“Em 2020, durante a pandemia, me afastei da empresa em que trabalhava e voltei aos estudos, mais tarde convidando a Karina para fazer parte do projeto. Em 2021 fizemos a viabilidade financeira e depois a comercial, além de testes em máquinas emprestadas, para então alugar um pavilhão e iniciar a montagem da empresa em setembro de 2021”, relembra Andressa como a Ankur teve início.
Ambas nunca trabalharam antes com o meio de embalagens ambientais, então toda a ideia e pesquisa para empreender no ramo, começou do zero. Para a primeira fórmula de amido de mandioca, foi necessário a contratação de uma professora formada em Química para o desenvolvimento. Já na segunda fórmula, a de farelo de trigo, foi desenvolvida pelas próprias sócias através de pesquisa, testes e muita persistência.
“O nosso processo é bem manual. É feito a massinha, depois é colocado na prensa quente, que ela é prensada e sai o produto praticamente pronto. Depois vem a parte do acabamento, que é feito pelas gurias da produção”, explica Karina. De início, a empresa era tocada somente pelas socias, desde a parte administrativa, financeira, marketing e produção das embalagens. Hoje, elas já conseguiram contratar mais duas mulheres, que foram devidamente treinadas e ficam somente na parte de fabricação e acabamento das embalagens.
Entre os produtos, a Ankur produz pratos com resíduo de trigo de 400ml, bandeja de amido de mandioca de 800ml, Bowl de trigo de 900ml, hamburgueria de 450ml feita de fibra de cana, marmita de 900ml feita de fibras vegetais, além de uma marmita 1200ml c/ 3 divisórias feita de fibras vegetais. Outro destaque é o copo retrátil de 400ml, que recebe bebidas quentes, frias e até comida.
A empresa também produz canudo biodegradável, feito de trigo e água, que mantém a sua estrutura e resistência mesmo após a imersão no líquido gelado por volta de 30 a 45 minutos. Além disso, a Ankur também oferece Celofane Vegetal Permeável e o Celofane Vegetal Impermeável, ambos verdadeiros e feitos 100% com celulose de árvores de eucalipto reflorestadas.
Em 6 meses de fabricação própria, já foram produzidas em torno de 20 mil embalagens compostáveis pela Ankur, com envio para todo o Brasil.
“Como iniciamos a produção em fevereiro de 2022, ainda é muito cedo para falar em números de faturamento, mas neste momento estamos escalando produção e gerando vendas. Já temos em torno de 40 clientes com histórico de compras”, conta Amanda.
Hoje, a AnKur também é pioneira no Rio Grande do Sul: é a primeira indústria de embalagens compostáveis.
Não é à toa que o negócio de Karina e Andressa foi a terceira colocada entre os vencedores da 6ª edição do Programa FedEx para Micro e Pequenas Empresas no Brasil. A produtora de embalagens sustentáveis levou R$ 75 mil, e ainda teve uma mentoria de negócios com Renato Mendes, que é investidor, mentor na Endeavor Brasil e autor do best-seller “Mude ou Morra”.
“A premiação chegou num momento muito certo para nós. Entramos na inscrição acho que faltava dois dias para encerrar, foi assim bem nos 45 do 2ª tempo. Foi uma coisa que não foi nós que vimos a publicação da FedEx, foi até uma indicação, e a gente se inscreveu, viu que já tinha bastante gente inscrita, e confiamos no que estávamos propondo, no nosso propósito de empresa e ficamos com o coração apertado”, relembra Amanda sobre a premiação.
Neste ano, o programa recebeu 1.535 inscrições, número cerca de 90% maior que o de 2021. A Ankur foi selecionada primeiro entre as 15 finalistas, e depois ficou como a 3ª colocada na premiação.
“Vai nos dar um superfôlego para os próximos meses, queremos investir em novos moldes (tamanhos) de embalagens, bem como em melhorias diversas na produção. Muito importante citar também que a mentoria do Renato Mendes valeu uma graduação! Foi maravilhosa”, completa a empreendedora.
Para os planos futuros, Andressa e Karina visam investir em novos moldes e tamanhos, para ter outros tipos de embalagens compostáveis e entrar em outros ramos, além da indústria alimentícia.
Além dos produtos feitos de amido de mandioca e farelo de trigo, a Ankur também produz embalagens feitas com resíduos de parceiros, como a Coperav, que envia casca e farelo de arroz para produção de bandejas.
“Já fizemos três parcerias com embalagens feitas de resíduos dos clientes. Então essa também é uma possibilidade bem legal assim. Temos por exemplo um case que é a Coperav, que é uma cooperativa que produz arroz orgânico. Então eles nos enviam a casca e farelo de arroz para fazermos as embalagens para eles, porque eles também têm uma indústria de panificação, além do arroz. Então eles já vendem os bolos e pães, fornecidos inclusive na bandeja com resíduo deles”, explica Amanda.
“Tivemos outros cases né, com resíduo de soja, com leite vegetal, então teve outras coisas que construímos parcerias, que nos trouxe bastante conhecimento e que pretendemos também investir e buscar novos parceiros para tocar esse projeto”, completa a empreendedora. (Do Ecoa, plataforma de jornalismo do UOL)