O GT Colheita Mecanizada de Mandioca, grupo de trabalho criado no âmbito da Câmara Setorial da Cadeia Produtiva da Mandioca e Derivados, instituição que atua junto ao Ministério da Agricultura, apresentará em, no máximo, três anos um projeto preliminar de uma colheitadeira mecanizada. Antes, no segundo ano de trabalho, o GT trabalhará na validação de protótipos de módulos da máquina e realizará testes e experimentos.
A informação foi dada pelo coordenador do GT, Emerson Fey, da Unioeste (campus de Marechal Cândido Rondon), na reunião da Câmara Setorial realizada esta semana, por videoconferência. A validação dos protótipos de alguns mecanismos que exigirem esta providência, no entanto, dependerá da disponibilidade de recursos financeiros para a produção dos módulos.
O cronograma das ações, anunciado na reunião da Câmara Setorial, foi definido numa reunião do GT, realizada na semana anterior. Antes do encontro, também por videoconferência, o coordenador conversou com os pesquisadores Hevandro Colonhesa Delalibera, do IDR-PR (Ex-Emater), egresso da área de engenharia agrícola do Iapar, e Daniel Portioli Sampaio, da Embrapa Instrumentação, que integram a comissão central de trabalhos (CCT).
O atual sistema de colheita, semimecanizado, é um dos principais gargalos do setor. Segundo o presidente da Câmara Setorial, Osvaldo Zanqueta a colheita representa entre 30% e 40% do custo de produção. Uma máquina desenvolvida por uma empresa de Marechal Cândido Rondon mostrou, em testes, capacidade de colher entre 4 e 5 toneladas de mandioca por hora e reduziu o custo de R$ 70,00 para R$ 14,00 por tonelada. Mas a máquina ainda é cara e apresenta algumas deficiências.
São iniciativas como esta que o GT quer reunir e avaliar com maior critério. De acordo com Fey, já foram desenvolvidos diversos projetos e construídos e testados protótipos, mas nenhuma chegou a alcançar a eficiência para atender a demanda do setor.
“Não é uma tarefa fácil. A máquina tem de roçar, afofar a terra, puxar o pé da mandioca, despinicar e a raiz por uma esteira até o depósito, uma caçamba ou um bag. É preciso uma tecnologia robusta”, diz Zanqueta. “A máquina tem que separar a terra, o cisco e o mato que sobem junto com a mandioca na esteira”, completa Fey.
RECURSOS FINANCEIROS – Na reunião do GT foi discutida a busca de financiamento através de instituições de apoio à inovação e de fomento em parceria com empresas privadas para executar as atividades relacionadas a primeira fase do projeto. “É a fase preliminar, onde vamos desenvolver o conceito da máquina”, explica o coordenador.
Além destas instituições, o GT pediu à Câmara Setorial para que busque apoio junto ao MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) para o projeto, que vai precisar contratar bolsistas para apoio na área de engenharia e terá custos da fabricação dos protótipos para serem validados.
Zanqueta antecipou que na audiência que terá na próxima quarta-feira, dia 19, com a ministra Tereza Cristina, da Agricultura, já vai tratar do assunto.
O presidente da Câmara também disse acreditar que o GT, formado por expoentes nomes do setor de engenharia agrícola terá uma grande credibilidade, o que facilitará a captação de recursos. E que o trabalho do primeiro ano será essencial para o financiamento do projeto. “Acho que podemos até conseguir estes recursos no MAPA”, analisa ele.
Na segunda fase (segundo ano) o GT continuará trabalhando no projeto com a construção e validação dos protótipos, se houver recursos. Na fase seguinte o projeto será apresentado à ABIMAQ – Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos – em busca de parceiros para a produção da colheitadeira.
RESGATAR INFORMAÇÕES – O primeiro desafio do GT será superar a falta de informações de projetos já desenvolvidos, mas que, por alguma razão, falharam. “Falta informações organizadas e documentadas sobre os acertos e erros nas iniciativas de construção de máquina, protótipos e produtos disponibilizados comercialmente”, diz o coordenador, apontando que os protótipos, em sua maioria, foram construídos por equipes pequenas e sem a metodologia sistemática de desenvolvimento. Resgatar estas informações será imprescindível agora.
O pesquisador tem consciência de que muitos dos protótipos construídos sequer tinham um projeto. “Muitas das iniciativas o desenho está na cabeça do inventor. Torneavam a peça, soldavam, ficava grande, cortava e soldava outra vez. Assim aconteceram muitos projetos”, admite ele, que agora precisa sistematizar estas informações.
Ele explica que uma colheitadeira é feita por módulos. E que um afofador, por exemplo, pode estar numa máquina que não tem a melhor despinicadeira. “Temos que juntar o melhor de cada máquina e fazer um projeto único, viável técnica e economicamente”, aponta.
Na reunião da Câmara Setorial um representante do Nordeste alertou que, ao seu ver, a futura colheitadeira seria um equipamento para atender grandes lavouras. E que a realidade na sua região é de pequenos produtores.
O presidente Zanqueta concordou com a observação, lembrando que em Santa Catarina o plantio de mandioca também é feito por produtores familiares. E que há necessidade de um equipamento, mais simples, para atender também esta demanda, como acontece, por exemplo, na Tailândia.
Emerson Fey disse que esta necessidade também está sendo considerada, pois os membros do GT têm consciência desta realidade diferente dos estados do Paraná, Mato Grosso do Sul e São Paulo, onde as lavouras, normalmente, são de maior porte.