Técnica que permite o fornecimento controlado de água para as lavouras em quantidade suficiente e no momento certo, assegurando a produtividade e a sobrevivência da plantação, a irrigação é uma alternativa para aumentar a produtividade da cultura da mandioca, uma das principais atividades do agronegócio do Noroeste do Paraná. Segundo o técnico Vitor Inácio Davies Lago, do escritório regional do Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria de Agricultura em Paranavaí, as estimativas são de que na safra 2019-2020 haja incremento da ordem de 35% em relação ao ano anterior, “mas a estiagem do ano passado pode prejudicar e derrubar o rendimento”.
Segundo o agrônomo Maurício Coelho, com mestrado e doutorado em Agronomia em Irrigação e Drenagem pela USP, “apesar da mandioca ser considerada uma planta tolerante aos estresses abióticos, como é o caso do déficit de água no solo (períodos de seca) e baixa fertilidade de solos, há sim quedas de produção nessas condições, agravando-se principalmente quando os cultivos são sucessivos sem o correto manejo de solo e água”.
Pesquisador da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) e pesquisador-visitante de Rothamstead Research, na Inglaterra (2011 a 2013 – pós-doutorado), Coelho afirma que “em condições semiáridas quando a produtividade média em condições de sequeiro é de 2 a 7 toneladas t/ha, geralmente em 24 meses de cultivo, pode passar de 30 t/ha em 10 meses”, ou seja, além de incrementar a produtividade a técnica permite a colheita precoce.
No solo arenoso da região de Paranavaí, a maior produtora do Brasil de mandioca para fins industriais, a produtividade média é de 20 t/ha para a mandioca de um ciclo. Projetando as médias alcançadas no semiárido para a realidade regional, pode-se prever um incremento na produtividade de cerca de 400%, elevando a produtividade da raiz para 80 t/ha.
Segundo Vitor Lago, a mandioca ocupa atualmente uma área de 58.427 hectares nos 33 municípios da região do Escritório Regional do Deral. Desse total, 41.927 é de mandioca de um ciclo e parte dela deverá ser podada. Outros 16.500 hectares são de lavouras que foram podadas ano passado e agora começa a ser colhida. A estimativa é que sejam colhidas na atual safra, descontando a parte que será podada, algo em torno de 42.500 hectares.
IRRIGAÇÃO – Lançada em setembro de 2019, o Programa Estadual de Irrigação (Irriga Paraná) começa a dar seus primeiros passos no Estado. Nesta sexta-feira, dia 24, o Sindicato Rural de Paranavaí, autor do pedido para a criação do programa, reúne produtores e técnicos em sua sede, a partir das 15 horas, para a criação da Associação dos Irrigantes do Noroeste do Paraná.
A mandioca é uma das culturas que está no radar das lideranças que atuam para a consolidação da irrigação no Estado pelo peso que a atividade tem na economia regional. A expectativa é de um incremento na produtividade.
Para Maurício Coelho, que na Embrapa atua principalmente nos temas de manejo de irrigação de fruteiras e mandioca, tolerância à seca e Zoneamento Agrícola de Risco Climático (ZARC), a irrigação reduz os riscos climáticos e dá maior previsibilidade dos retornos econômicos, aumento da produtividade, colheita precoce (geralmente com 10 meses), possibilidade de escalonamento de plantio e colheitas em diferentes estações do ano.
Leis abaixo a entrevista que o pesquisador Maurício Coelho, da Embrapa, concedeu ao site da ABAM por aplicativo de mensagem.
Já existe lavouras de mandioca irrigadas em escala comercial ou apenas em campos experimentais? Se existe em quais regiões/Estados?
Sim. Há plantios em escala comercial. Apesar da mandioca ser considerada uma planta tolerante aos estresses abióticos, como é o caso do déficit de água no solo (períodos de seca) e baixa fertilidade de solos, há sim quedas de produção nessas condições, agravando-se principalmente quando os cultivos são sucessivos sem o correto manejo de solo e água. Por isso, a prática da irrigação é observada em muitas regiões principalmente praticadas por pequenas propriedades do Nordeste, Sudeste e Centro-Oeste, a fim de reduzir os riscos climáticos relacionados a incertezas de chuvas principalmente no período inicial de desenvolvimento até o quinto mês, quando a planta é mais sensível.
Que tipo de irrigação está sendo utilizada na lavoura de mandioca?
Geralmente a cultura de mandioca é irrigada por método de irrigação por aspersão, sendo a aspersão convencional a de menor custo, a mais utilizada e a que mais se adapta ao cultivo consorciado (prática comum de pequenos produtores), pois toda área é molhada, simulando chuva. Porém existem cultivos com aspersão por pivô central e muitos exemplos do uso de irrigação localizada (microaspersão e gotejamento).
As lavouras irrigadas são de variedades industrial ou de mesa? Qual variedade está sendo usada para a lavoura irrigada?
Geralmente a irrigação é mais utilizada para mandioca de mesa, quando há necessidade de maior qualidade da raiz e de colheita precoce, em um ciclo produtivo (até 12 meses). Entretanto, há casos de mandioca irrigada para indústria muito em função das inúmeras vantagens do cultivo irrigado em relação ao de sequeiro, principalmente relativo ao aumento de produtividade e precocidade de colheitas.
As variedades utilizadas são muito dependentes da região produtora. Geralmente os produtores, ao longo de muitos anos, selecionam variedades mais adaptadas ao solo e clima da região, batizando-as com nomes variados relacionados a algum atributo da planta ou agronômico, nome de uma localidade, nome de pessoas etc.
Qual a vantagem da lavoura irrigada de mandioca em relação a uma lavoura sequeira?
São inúmeras vantagens. Dependem também do clima e solo em que se cultiva. Quanto maior for o período seco no ano, associado a elevadas temperaturas, maior a possibilidade de ganhos de cultivos irrigados comparados ao de sequeiro. Por exemplo, em condições semiáridas quando a produtividade média em condições de sequeiro é de 2 a 7 toneladas t/ha, geralmente em 24 meses de cultivo, pode passar de 30 t/ha em 10 meses.
As principais vantagens estão relacionadas às reduções dos riscos climáticos e maior previsibilidade dos retornos econômicos, aumento da produtividade, colheita precoce (geralmente com 10 meses), possibilidade de escalonamento de plantio e colheitas em diferentes estações do ano etc.
A irrigação da mandioca pode ser feita em qualquer tipo de solo?
Sim, a irrigação se adapta a diferentes tipos de solo.
O tipo de sistema de irrigação deve ser escolhido segundo as variações de solo e o manejo de irrigação também deve ser diferenciado em função dessas variações e da variabilidade dos elementos climáticos durante o ciclo produtivo.
Importante salientar que solos profundos e com boa capacidade de drenagem são mais indicados para mandioca, que é sensível a longos períodos de encharcamento dificultando a brotação inicial e são condições ótimas para o aparecimento da podridão radicular. Da mesma forma, o manejo de irrigação inadequado pode levar ao aparecimento de problemas, exemplo: excesso de irrigação em solos mais “pesados” também favorece ao aparecimento de podridão radicular.
A Embrapa recomenda a irrigação da mandioca em quais situações?
Esse tema ainda é muito discutido, havendo certa controvérsia, justamente porque a mandioca é uma cultura sabidamente tolerante à seca e muito produzida em condições semiáridas ou regiões mais secas onde não há disponibilidade de água para irrigação. Porém, os ganhos alcançados com a prática de irrigação têm despertado o interesse de muitos produtores e a Embrapa apoia essa prática quando consultada, organizando treinamentos sobre manejo de irrigação e disponibilizando as tecnologias geradas sobre o tema.
Destacamos que a rede Reniva “Rede de multiplicação e transferência de manivas-semente de mandioca com qualidade genética e fitossanitária”, tem como base do seu sistema de produção, o plantio de mudas matrizes em condições irrigadas, garantindo qualidade independente das restrições hídricas da região produtora. Essa tecnologia viabiliza a produção precoce de material propagativo (maniva-semente) com elevada qualidade fitotécnica, genética e fitossanitária por produtores chamados de “maniveiros”.