Mesmo que não aumentasse a produtividade em relação ao sistema convencional, o plantio direto da mandioca já representaria “um grande ganho” ao produtor, por conta da melhoria das condições ambientais, menor perda de solo, sequestro de carbono etc. E, além disso, a tecnologia proporciona redução de custos de produção, sem custo de aração, gradagem, desgaste e quebra de máquinas e tratores.
A afirmação é do pesquisador Marco Antonio Sedrez Rangel, do Campo Avançado do Centro Sul da Embrapa Mandioca e Fruticultura, com base em Londrina, durante entrevista ao programa Agro em Revista, do canal AgroMais, da Rede Bandeirantes, dedicado exclusivamente ao agronegócio.
Na entrevista ao jornalista e apresentador André Anelli, o pesquisador, que é agrônomo com doutorado em fitotecnia e experiência em sistemas de produção, citou que, ao contrário das culturas de grãos, o plantio direto da mandioca “tem uma condição diferente, já que o principal produto da lavoura se desenvolve abaixo do solo. Então, pondera Rangel, neste caso o sistema “tem que permitir um ambiente em que as raízes, a tuberosa da mandioca, se desenvolvam bem. Aí foi o desafio para a pesquisa”. Garante, no entanto, que com a mecanização do plantio e o desenvolvimento de variedades adaptadas à tecnologia, esta fase está superada.
Isto permitiu que muitos produtores aderissem ao plantio direto e percebessem que, além dos benefícios como a manutenção do material orgânico e a proteção do solo contra erosão e lixiviação, também há “a melhoria do ambiente, manutenção da umidade do solo, sequestro de carbono etc. “Isto dá mais segurança ao produtor, tanto na redução de custo como no plantio, que no Centro Sul do Brasil é feito no período mais seco e o plantio direto permite que se mantenha a umidade do solo por mais tempo e o produtor consegue fazer o plantio com mais tranquilidade”, explicou o pesquisador.
PERDA DE SOLO – Marco Rangel lembrou na entrevista ao AgroMais que nos principais estados produtores de mandioca do centro sul do Brasil, como Paraná, Mato Grosso do Sul e São Paulos os solos usados para o plantio de mandioca são “os arenosos, desestruturados, muito frágeis”, o que motivou a pesquisa para dar mais sustentabilidade à cultura.
“Nesses solos arenosos a erosão ocorre com muita frequência, porque o próprio preparo do solo ajuda mais ainda a desestruturá-lo. Com o plantio direto, o produtor não revolve o solo, mantendo a sua estrutura, protegido com a palha, aumentando a proteção. Os dados apontam que, na cultura da mandioca, a perda de solo por ano é de 34 toneladas por hectare, uma perda alta. Os dados apontam que o plantio na palha pode reduzir esta perda em 90%, o que já é um grande ganho, pois é o maior patrimônio do agricultor, o solo. E aumenta a possibilidade de, com mais material orgânico, a mandioca responder melhor”, enfatiza o agrônomo.
Questionado sobre o aumento de produtividade com o plantio direto, Marco Rangel assinalou que as pesquisas apontam para um crescimento médio de 25%. “Mas eu diria que, se com o plantio direto a gente conseguir manter a mesma produtividade em relação ao convencional, já é um grande ganho, por conta da melhoria das condições ambientais, menor perda de solo, sequestro de carbono. Isso já é um grande ganho. Aliado a isso, tem a redução de custos, pois terá menos operações com aração, gradagem, desgaste e quebra de máquinas, tratores e peças. A redução de custos permite um resultado melhor no fim da colheita”.
Isto não significa, no entanto que o aumento da produtividade não seja importante. “O aumento da produtividade é algo que estamos buscando e estamos conseguindo via melhoria do sistema de produção, pela mecanização, pela melhor utilização do solo e pelas variedades que temos desenvolvido – a Embrapa já lançou até agora duas variedades novas adaptadas para o plantio direto. (…) Nossa perspectiva é que ao longo do tempo tenhamos resultados ainda bem melhores do plantio direto em relação ao convencional. Mas hoje eu diria que, estando na mesma produtividade, já é um grande ganho para o produtor”, avalia ele.
As variedades para esta tecnologia de plantio, que já é uma prática antiga em lavouras de cereis, têm um crescimento inicial vigoroso para cobrir o solo o mais rápido possível, o que confere a elas também a precocidade. “Na região (centro-sul), até a entrada do plantio direto, as variedades eram muito tardias, muito lentas no seu desenvolvimento inicial e isso complicava o manejo do mato, da cobertura do solo. Hoje, com as novas variedades, a cobertura do solo é mais rápida, o que dá uma segurança maior e um gerenciamento melhor do manejo da cultura”, ensina o pesquisador.
Na entrevista concedida na segunda-feira (21), Rangel contou que grandes áreas estão sendo incorporadas ao plantio direto. “Grandes produtores estão apostando no sistema”, revelou, apontando que os interessados devem se preparar para entrar no plantio direto. “Não é de uma hora para outra”, explica, informando que a Embrapa disponibilizou uma cartilha sobre o plantio direto da mandioca, que dá o passo a passo para adesão à nova tecnologia da mandiocultura.
Para acessar à cartilha, click neste link: https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/186376/1/cartinha-plantiodireto-Rangel-2018-Ainfo.pdf