Lançado recentemente, o livro Mandioca; do plantio à colheita, traz um capítulo sobre “Manejo do Solo”. Ele é assinado pelos agrônomos Cássio Antonio Tormena, Pedro Soares Vidigal Filho, da Universidade Estadual de Maringá (UEM), Jonez Fidalski do Instituto de Desenvolvimento Rural – IAPAR-EMATER (IDR-Paraná) e Manoel Genildo Pequeno (In memoriam).
De acordo com Fidalski, a interação interinstitucional desta equipe resultou na síntese das interpretações dos resultados de pesquisas publicadas a partir de 2001, com a inserção da cultura de mandioca após o cultivo de cereais ou pastos, disponibilizando, assim, opções de sistemas de produção mais diversificados para o manejo e conservação do solo e da água para a produção sustentável de raízes de mandioca.
O livro Mandioca: do plantio à colheita apresenta todo o percurso dessa cultura, desde o preparo do solo até a conservação de seus produtos. Junto a informações sobre a origem, a fisiologia e a nutrição da planta, a obra detalha as características das principais cultivares de mandioca no Brasil, as ferramentas para o controle de pragas, doenças e ervas daninhas na cultura, os métodos e sistemas de irrigação mais eficazes e as práticas mais utilizadas na colheita da mandioca. Além disso, analisa o mercado de oferta e demanda dessa tuberosa, para que o leitor melhor compreenda a dinâmica das transações no cenário atual e as tendências na produção de mandioca no Brasil e no mundo.
Um trecho gratuito já está disponível para download através deste link: (https://s3-sa-east-1.amazonaws.com/ofitexto.arquivos/degustacao/mandioca-plantio-colheita_deg.pdf).
Aqui, é possível verificar a relação dos 31 autores e a página inicial de cada um dos 13 capítulos, os quais foram organizados por Pedro Soares Vidigal Filho, Alex Henrique Tiene Ortiz, Manoel Genildo Pequeno e Aluzio Borém.
Para obter mais informações sobre o material e adquirir a versão impressa, consulte: https://www.ofitexto.com.br/livro/mandioca/
Jonez Fidalski em conversa com o site da ABAM comentou sobre o livro e questões relacionadas a solo na cultura da mandioca.
Leia abaixo a entrevista.
Como foi para você participar do livro Mandioca: do plantio à colheita?
Foi ótimo! A possibilidade de deixar registrado e compartilhar os resultados das pesquisas que venho desenvolvendo desde a década de 1980 é muito gratificante. Por mais que já tenha divulgado partes desse trabalho em outros lugares, como artigos científicos, palestras e Dias de Campo, acredito que a publicação disso tudo num livro possibilita compartilhar essas informações técnicas para outros leitores.
Como foi escrever um capítulo do livro a oito mãos? Como vocês interagiam para finalizar o artigo?
Todo o processo de escrita e correção do capítulo foi possível por meio da internet, à base de muita conversa, organização e, claro, responsabilidade. Tudo começou por meio do convite do professor Dr. Cássio Antonio Tormena, em meados de 2018. Ele participava de um grupo de professores que vinha trabalhando há um tempo com sistemas de plantio de mandioca em cereais. Por eu já trabalhar com manejo de solo de mandioca em pasto, fui convidado a agregar aos resultados deles. A partir da primeira versão dos resultados experimentais, inseri e contribuí com o subcapítulo “Recuperação de pastagens e sistemas integrados de produção mandioca-pasto”. Posteriormente, elaboramos as considerações finais sobre opções de sistemas de produção mais diversificados para o manejo e conservação do solo e da água para a produção sustentável de raízes de mandioca.
A mandioca hoje é produzida em diversos estados brasileiros, com suas características próprias de solo. Como escrever sobre manejo de solo para a mandioca com estas diferenças?
Parte dessa diversidade de manejo de solos brasileiros foi escrita citando parcialmente resultados de artigos disponíveis na literatura por outros autores. Paralelamente, os autores escreveram o capítulo de manejo do solo com os resultados experimentais que tinham gerado e publicados a partir de 2002, contemplando solos de textura arenosa a argilosa com diferentes culturas para possibilitar a cobertura morta sobre a superfície do solo, associado aos sistemas de preparo do solo convencional, mínimo e plantio direto de mandioca.
Infelizmente, temos observado a queda de produtividade da mandioca. Vinte ou trinta anos atrás, colhia-se cerca de 120 ton por alqueire ou mais. Hoje fala-se em 60 a 80 ton. Esta queda tem entre outras razões a exaustão do solo que não recebeu o devido tratamento. Tem como reverter a situação na sua opinião? Como?
Este questionamento da diminuição da produtividade de raízes de mandioca é um dos principais temas discutidos na maioria dos encontros técnicos regionais com o agronegócio mandioca. Por conta disso, os mandiocultores estão desenvolvendo cultivos com mais tecnologia do plantio à colheita. No caso específico de manejo do solo, a divulgação dos resultados de pesquisas tem possibilitado informar opções de sistemas de plantios mais sustentáveis, com menor intensidade de intensidade no revolvimento do solo, seja pelo preparo reduzido feito com escarificador ao plantio direto solo sobre as palhadas de plantas de cobertura, de grãos ou pastos. No meu ponto de vista, o agronegócio mandioca se desenvolveu com as agroindústrias que dependem das raízes como matéria prima e o desenvolvimento do plantio direto da mandioca, é o caminho para o manejo de solo sustentável para a conservação do solo, assim como manter e possibilitar aumentar a produção de mandioca, visando menores riscos de erosão e degradação.
O Sistema de Plantio Direto (SPD) tem sido apontado como uma forma conservacionista do solo. Pela sua experiência, você acredita que os produtores vão adotar este novo sistema e vai dar resultado?
O Plantio Direto consiste na melhor opção para o manejo sustentável do solo destinado ao cultivo de mandioca. Vou citar um exemplo de como vem se expandido esse sistema de plantio sobre a palhada de plantas de cobertura, cereais ou pastos. Durante as minhas palestras e Dias de Campo, após apresentar os resultados de pesquisa, costumo questionar ao público (majoritariamente constituído de mandiocultores) se dentre eles alguém já está testando ou utilizando essa tecnologia conservacionista de solo. Pasmem! Silêncio geral, ninguém costuma se manifestar e finalizo a minha apresentação. Em seguida, quando se inicia a confraternização de encerramento, é comum algum participante vir testemunhar que está testando para aprender como fazer o Plantio Direto de mandioca. Ou seja, os mandiocultores ainda estão cuidadosamente testando essa tecnologia, portanto, são cautelosos em afirmar publicamente a sua utilização.
A mandioca é relativamente resistente à escassez hídrica. Mas nos últimos anos as longas estiagens têm prejudicado as lavouras, reduzindo a produtividade e favorecendo o surgimento de pragas, como a mosca branca. A irrigação pode ser uma alternativa para solucionar o problema? Você sabe qual o custo X benefício?
Poderei contribuir sobre a maior disponibilidade de água que medimos em Plantio Direto de mandioca, comparada ao plantio convencional; aquele no qual se tomba toda a superfície da terra com arado, grade pesada e grade niveladora para o plantio de mandioca. Durante dois cultivos em safras de mandioca de dois ciclos, a palhada de braquiária manteve maior disponibilidade de água em solo arenoso para as raízes de mandioca do que em plantio convencional em solo descoberto. Na segunda safra avaliada houve veranicos no final do ano e no início do ano subsequente, de tal intensidade que as hastes metálicas do medidor portátil de água não penetravam a camada superficial de 5 centímetros de profundidade. Passados esses veranicos após chuvas, foi restabelecida a maior disponibilidade de água no solo para as raízes de mandioca em Plantio Direto.
A adubação de solo tem elevado muito os custos de produção da mandioca. O que o produtor pode fazer para ter um “adubo natural” e economizar no produto industrializado? Tem alternativa?
Atualmente existem tabelas de recomendações de adubação e calagem para o cultivo de mandioca, que dependem da interpretação dos resultados de análises químicas de solo, realizadas por laboratórios. Uma das alternativas seria o plantio de mandioca após culturas comerciais ou pastos que tenham sido adubados e corrigidos a sua acidez com calcário e que atendessem às exigências nutricionais da mandioca. A cultura de mandioca extrai nutrientes do solo, os quais são exportados para fora da lavoura pelas raízes e ramas quando são destinados ao plantio de manivas em outra área agrícola. Na literatura há opções alternativas aos fertilizantes industrializados, como por exemplo os adubos orgânicos, adubos verdes, resíduos agroindustriais, etc. Essas opções poderiam ser implantadas em pequenas lavouras de mandioca, com maior grau de aplicabilidade em lavouras de mandioca extensiva.