As áreas cultivadas com mandioca em Marechal Cândido Rondon têm oscilado entre 500 e 800 hectares nos últimos cinco anos. Em 2021, a mandiocultura ocupou o menor índice de áreas dos últimos anos. Para o técnico agrícola Sigmar Herpich, a planta tem perdido popularidade devido aos bons preços de outros cultivares.
“Os grãos atingiram preços atrativos e os custos de produção apresentavam boa oportunidade de remuneração até 2020. Depois, houve uma elevação muito grande nos preços dos insumos e agora vai ficar ‘mais apertado’”, avalia o profissional, que é membro do conselho técnico da Associação Técnica das Indústrias de Mandioca do Paraná (Atimop).
Conforme Herpich, além dos bons preços dos grãos, a mandiocultura acabou sendo substituída no Oeste pelo fato das culturas da soja e do milho – predominantes na região – serem de fácil cultivo, terem ciclos rápidos e exigirem menos mão de obra.
RESISTÊNCIA À SECA – O grande trunfo da mandiocultura, ressalta o profissional, é a resistência aos períodos de estiagem, que têm sido frequentes na região. Enquanto grãos precisam de chuvas abundantes em grande parte do ciclo, a mandioca necessita de grandes índices de chuvas apenas após o plantio. “Na mandioca os poros dos estômatos, que ficam na folha da planta, são menores do que os de outros cultivares. Essa característica deixa a cultura mais eficiente na fotossíntese, pois perde menos água pela transpiração”, explica.
Diante da escassez hídrica, o técnico agrícola menciona que a mandioca aumenta o crescimento das raízes para buscar água nas dimensões mais baixas. “A planta tolera épocas sem chuvas porque busca água nas profundezas e ‘se fecha’ mais rápido para perder menos água. Além disso, o ciclo mais longo da mandioca faz com que, caso haja interferência, ela compense o prejuízo no transladar do ciclo”, expõe.
CULTURA DE SEGURANÇA – O perfil de resistência que a mandioca possui diante da estiagem faz com que ela seja uma “cultura de segurança”. “Isso deveria repercutir num maior plantio de mandioca, pois ela garante sustentabilidade para o produtor, mas não acontece. Preconizamos que o produtor cultive mandioca em parte da área, porque ela é mais tolerante e dá uma segurança de rendimento”, frisa Herpich.
O que impede sua propagação, considera ele, é a maior necessidade de mão de obra. “Em âmbito de Marechal Rondon, nos distritos onde a pecuária é mais intensa há uma diminuição da mão de obra disponível no campo, como na região de São Roque e Margarida, devido à forte presença da suinocultura e da avicultura. Em Bom Jardim, Porto Mendes e Bela Vista a presença da pecuária não é tão intensa e a mão de obra para a cultura da mandioca está mais disponível”, informa.
O profissional pontua que a mandiocultura também atua como um cultivar de renovação de pastagem. “Em um pasto já degradado, o produtor arrenda essas terras com um custo menor e a mandioca faz a conservação, adubação e correção do solo. Ela fica de dois até quatro anos e depois volta a pastagem com o solo devidamente corrigido”, salienta.
PEREÇOS EQUILIBRADOS – O preço médio por tonelada de mandioca é cerca de R$ 580. Atualmente, a cotação está em R$ 702 no começo de 2022. “Em 2021, tivemos uma oscilação bastante grande, principalmente dos 40% sentidos entre julho e agosto. Saímos de R$ 500 a tonelada até R$ 520, chegando a R$ 702. É uma variação bastante elevada, mas não são preços ‘fora da curva’. Há cinco anos já tivemos um pico de preço bastante elevado. Os menores valores ocorrem entre junho e agosto, que é o pico de colheita em todo o Brasil. Nesse período, em julho de 2019, de 2020 e de 2021 chegamos a R$ 420, os menores preços desses últimos anos”, pontua.
A mandioca de 12 meses tem produtividade média de 60 toneladas por alqueire; a de 18 meses em torno de 85 toneladas; e a de dois ciclos, 24 meses, média de 115 toneladas.

ESTÁGIO ATUAL – Atualmente, há lavouras de mandiocultura em Marechal Rondon indo para o 2º ciclo, bem como plantas cultivadas há cerca de quatro meses. “A mandioca de dois ciclos está com 14 ou 15 meses em uma fase que se chama engrossamento de raízes, quando ela acumula muito amido na raiz. O acúmulo do amido da raiz se dá numa relação inversa ao desenvolvimento da parte aérea, ou seja, quanto maior o desenvolvimento da parte aérea menor é o acúmulo de amido na raiz; quando se encerra o crescimento da parte aérea há um acúmulo mais elevado na raiz”, detalha Herpich.
A mandioca de primeiro ciclo da região está na fase de desenvolvimento de raízes. “Acontece agora a definição das raízes tuberosas. Isto é, vão emergir várias raízes e agora a planta define alguma dessas para serem tuberosas e acumular amido. São essas raízes que a gente colhe”, menciona.
SECA PODE CONTRIBUIR – Invés de diminuir o número de raiz por planta, a seca pode aumentar o número de raízes, comenta o profissional, embasado em estudos científicos preliminares. Na teoria, o estresse hídrico na fase de definição de número de raízes libera um hormônio chamado etileno, o que pode contribuir para o aumento do número de raízes tuberosas. “Esses trabalhos ainda são discutidos, mas é uma possibilidade”, reforça.

INDÚSTRIAS BUSCAM MANDIOCA FORA – Tendo em vista a abrangência cada vez menor, a mandiocultura presente em Marechal Rondon e região tem sido insuficiente para abastecer as indústrias de amido do extremo Oeste do Paraná. “De 60% a 70% da mandioca usada nas indústrias daqui é importada de regiões circunvizinhas, como Umuarama e microrregião, Sul do Mato Grosso do Sul e outras regiões”, destaca o presidente da Associação Técnica das Indústrias de Mandioca do Paraná (Atimop), Nilto Cerny.
Ele comenta que a diferença na disponibilidade também diz respeito ao tamanho médio das áreas cultivadas: enquanto no Oeste são áreas de cinco alqueires, nas outras regiões a média é de 30 alqueires.
Ao O Presente, Cerny menciona que a Atimop possui nove associados, sendo duas indústrias do Mato Grosso do Sul e sete do Paraná. “Algumas empresas saíram da atividade e isso fez diminuir o número de associados”, ressalta.

MERCADO EM RECESSÃO – O presidente da Atimop diz que o mercado interno dos produtos elaborados a partir da mandioca sofreu uma recessão em 2021. “Tivemos uma queda na venda de derivados de mandioca, seja amido ou farinha, entre 2% e 3%. Isso representa cerca de 15 mil toneladas de amido de mandioca”, expõe.
A diferença nas vendas internas, segundo Cerny, se deve à participação do produto brasileiro no mercado internacional. “A Tailândia vendeu muito para a China e faltou fécula para atender outros mercados, principalmente os Estados Unidos. Então, o Brasil exportou fécula para os norte-americanos e até para o Paraguai, que era um exportador para o Brasil. Nossa moeda está desvalorizada, o que torna nosso produto atrativo. Outra razão é o encarecimento do frete marítimo”, detalha.
Ao todo, a produção de mandioca em 2021 foi de 520 toneladas no Paraná, mantendo a média. “Para 2022 estima-se uma produção entre 470 e 480 toneladas. Estamos prevendo uma redução da disponibilidade de raízes e uma diminuição da produção de amido de mandioca”, estima o presidente da Atimop, acrescentando que a expectativa é exportar 31 mil toneladas de fécula. (Da edição on line do jornal O Presente – Marechal Cândido Rondon-PR)