Na tentativa de esclarecer alguns pontos, recentemente publicamos um boletim de pesquisa sobre o trabalho conduzido em Paranavaí, na propriedade do Cleto Lanziani Janeiro, a quem agradecemos pela parceria, e pedimos desculpas pelo incômodo. Há vários outros produtores parceiros que acreditam e apoiam a pesquisa, a quem também agradecemos. São pessoas que sabem que se trata de trabalho que exige paciência e compreensão, mas que tem o potencial de trazer muitos benefícios, e esses produtores os acessam em primeira mão, merecidamente.
O termo “genótipo”, que vou usar, é genérico, e pode ser referido a uma variedade crioula, uma cultivar já lançada ou um “clone” ainda em desenvolvimento. Então, ao trabalharmos com diferentes genótipos, podemos observar padrões diferentes de comportamento entre eles. Alguns são mais precoces, ou seja, apresentam boas produtividades já em colheitas a partir de 10 meses após o plantio. Outros, apresentam comportamento intermediário, com produtividade razoável no primeiro ciclo, e considerável aumento no início do segundo ciclo. Os genótipos tardios normalmente só apresentam viabilidade de colheita a partir de 18 meses após o plantio. Então, o produtor deve conhecer bem o perfil produtivo dos genótipos para que possa melhor planejar a sua lavoura.
Hoje, há muitos casos de produtores que plantam com previsão de colheita já feita, pois têm estratégia comercial definida. Também existem casos de antecipação de colheita (no primeiro ciclo), com ótimos resultados, quando há picos de preços. Em ambos os casos, é importante que o produtor conheça bem o perfil dos genótipos que vai utilizar e, até onde for possível, o comportamento do mercado. Compondo bem essas decisões, a chance de sucesso é maior.
Para melhor entender o comportamento das variedades durante as colheitas, e assim contribuir para a maior eficiência da cadeia produtiva da mandioca (pois a indústria também se beneficia), montamos experimentos que denominamos “curva de amido”, em vários locais e anos. As colheitas são realizadas normalmente a partir dos 10 meses após o plantio, em intervalos de cerca de 40 dias, estendendo-se até o final do segundo ciclo (em torno de 24 meses).
Na figura 1 está demonstrado o comportamento do teor de amido de seis diferentes genótipos de mandioca no período entre 10 e 23,5 meses após o plantio. Com exceção de um deles, pode-se notar que o comportamento do teor de amido das raízes segue um certo padrão, de certa forma já conhecido na prática pelos atores da cadeia produtiva. A perda de amido ficou em torno de 5 a 6 pontos percentuais (queda de cerca de 14%, em média), com exceção do genótipo 56-18, que foi de 2 pontos percentuais.
Normalmente, o amido se acumula nas raízes tuberosas ao final do primeiro ciclo, quando inicia a dormência, e volta a ser gasto para a geração da nova parte aérea no segundo ciclo, o que gera redução de sua concentração. O período dessa oscilação pode variar, em função do genótipo ou do ambiente.
Pelo que se observa nesse e com base em outros trabalhos, pode-se afirmar que o período necessário para voltar a recuperar o amido acumulado é de cerca de 120 dias, ou seja, até esse ponto há perda de amido pelas raízes tuberosas. A partir daí, níveis de teor de amido similares aos do final do primeiro ciclo são obtidos somente a partir de 17 meses após o plantio. Esse seria o comportamento esperado mas, como já mencionado, pode ser influenciado pelo genótipo ou pelo ambiente. Conforme o ocorrido em anos recentes, o período entre agosto e novembro tem sido seco e com temperaturas amenas, o que gera atraso na recomposição da parte aérea e, consequentemente, na nova acumulação de amido nas raízes, o que explica rendas ainda baixas nos meses de fevereiro a abril (no segundo ciclo).
Figura 1. Comportamento do teor de amido das raízes frescas de diferentes genótipos de mandioca em Paranavaí, PR, 2017/19.
O fato de alguns genótipos terem maiores teores de amido não revela que são mais produtivos; é desejável que tenham alta produtividade de raízes com elevados teores de amido. Então, o que vai traduzir o comportamento produtivo de um determinado genótipo é a produtividade de amido, ou seja, o produto da multiplicação da produtividade de raízes (em toneladas por hectare ou alqueire) pelo teor de amido. É essa produtividade que vai se traduzir em resultado financeiro. Na figura 2 está demonstrado esse comportamento na produtividade de amido, que explica o porquê de tratarmos genótipos por precoces, intermediários e tardios.
As produtividades são consideradas altas, entre 7,6 (Caiuá aos 10 meses) e 25,6 (56-18 aos 22 meses) toneladas de amido por hectare. Nas colheitas precoces (10 a 14,5 MAP) destacaram-se BRS CS01, BRS 420 e IPR União; nas intermediárias (16 a 19 MAP), 55-04 e 56-18; e nas tardias (20 a 23,5 MAP), os genótipos 56-18, BRS CS01 e IPR União. O que se deve destacar é que o genótipo Caiuá, mais conhecido como Olho Junto, foi inferior em todas as colheitas, o que denota os ganhos obtidos pelo melhoramento genético realizado pelas instituições públicas. Também é importante ressaltar que devem ser feitas vistorias frequentes a partir do final do primeiro ciclo, a fim de detectar podridões de raízes.
Informações mais detalhadas podem ser obtidas em publicação disponibilizada online no link:
https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/infoteca/handle/doc/1131650
(a)
(b)
Figura 2. Comportamento médio da produtividade de amido de seis genótipos de mandioca em Paranavaí, PR, 2017/19.