Apesar das adversidades climáticas – estiagem e depois geadas – a quantidade de raízes processada pela indústria de fécula cresceu 3,6% no primeiro semestre de 2021 ante a igual período de 2020. Houve mais dias de trabalho por parte das indústrias e maior interesse dos produtores pela liberação de áreas para outros cultivos, sobretudo grãos.
As cotações de mandioca e fécula não tiveram oscilações expressivas – somente para a farinha se observou variações um pouco mais intensas. Para a mandioca, no acumulado do 1º semestre a média mensal a prazo caiu 2,1%, em termos nominais. Em valores atualizados (deflacionamento pelo IGP-DI), a queda foi de 15,6% em igual comparação.
Para a fécula, a média nominal subiu 3% no 1º semestre, enquanto em que termos reais, houve queda de 11%, o que resultou em margens mais apertadas para a indústria no período.
Aos poucos, tem-se observados melhora na demanda pela fécula de mandioca, tanto no mercado interno, quanto no externo. De acordo com cálculos do Cepea, no 1º semestre deste ano o consumo aparente acumulado cresceu 6% frente ao de mesmo período do ano passado. A expectativa é que o Brasil volte a crescer neste ano, resultando em crescimento da demanda pela fécula. Vale considerar que o amido de milho, principal concorrente da fécula, vem sofrendo elevação de preços maiores, diante do maior custo da matéria-prima.
Recentemente, melhorou a competitividade dos preços de exportação da fécula brasileira frente aos da Tailândia e do Paraguai, favorecido pela taxa de câmbio. A demanda internacional, sobretudo pela União Europeia, também tem melhorado. Nos 6 primeiros meses deste ano, as exportações de fécula brasileira totalizaram 14,5 mil toneladas, superando em 4,4% o volume exportado em todo o ano passado, conforme dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex).
Um grande desafio para o setor será equilibrar a possível menor oferta de matéria-prima (e consequentemente dos derivados), com uma demanda por fécula em recuperação. Os aumentos de custos de produção e a melhor rentabilidade de culturas concorrentes em área devem pressionar a área destinada à cultura neste ano. Também há elevação do custo industrial, o que pode ter efeitos negativos sobre a competitividade.
* Fábio Isaias Felipe
Mestre em Engenharia de Produção pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e Bacharel em Ciências Econômicas. Pesquisador do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea-ESALQ/USP), com estudos da cadeia agroindustrial da mandioca e derivados (comercialização, custos de produção e organização industrial).
* Lucilio Rogerio Aparecido Alves
Graduação em Ciências Econômicas pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná (2000), mestrado (2002) e doutorado (2006) em Ciências (Economia Aplicada) pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ/USP). É professor do Departamento de Economia, Administração e Sociologia da ESALQ e pesquisador do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (CEPEA/ESALQ/USP).