Pesquisa conjunta realizada pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (CEPEA) da Universidade de São Paulo (USP) e as Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) com representantes da cadeia produtiva da mandioca mostrou que mais da metade das indústrias de fécula (56,1%) sofreram uma redução de até 30% na produção nos meses mais agudos da pandemia do novo coronavírus, a Covid-19. Esta informação faz parte de um estudo sobre a situação atual e a perspectivas de mercado de mandioca determinados pela pandemia. O levantamento foi divulgado na última reunião da Associação Brasileira de Produtores de Amido de Mandioca (ABAM).
O resultado da verificação foi apresentado pelo economista Lucílio Rogerio Alves, do CEPEA, e pelo pesquisador Carlos Estevão Leite Cardoso, da Embrapa. A ABAM, que tem convênio com as duas instituições, apoiou o estudo.
Os organizadores da pesquisa receberam 166 respostas do questionário, de produtores rurais (34%), produtores de fécula (12%), industriais de modificados de fécula (7%), produtores de farinha (7,8%) e extensionistas (10,9%) de 20 estados, sendo os contingentes mais representativos do Paraná, São Paulo, Bahia, Mato Grosso do Sul. Mais da metade dos que responderam à pesquisa está há pelo menos 15 atuando no setor.
IMPACTOS DA PANDEMIA – Para 23% dos que responderam ao questionário, a principal dificuldade enfrentada no período foi o transporte de trabalhadores e outros 12,6 consideram que o principal impacto no setor foi a dificuldade em transportar a raiz da lavoura para a indústria. Já 22,6% disseram que não sentiram reflexos direto da pandemia sobre o setor.
Os agroindustriais apontaram que a pandemia atrapalhou parcialmente a produção: um grupo relatou que a crise sanitária provocou o fechamento temporário das indústrias e outro acusou que houve limitação da produção e a empresa continuou operando em ritmo mais lento. Somados os grupos, 56,1% dos entrevistados apontaram que houve uma redução de até 30% da produção.
Dois terços ou 67,7% dos que responderam ao questionário, apontaram que houve uma redução da demanda por fécula desde que iniciou a pandemia da Covid. Já 12,9% registraram aumento na demanda.
Sobre a expectativa de mercado de fécula para os próximos 12 meses, 41% avaliaram que haverá aumento da demanda, 18% falam que vai reduzir e 24% registram que haverá estabilidade. Já em relação ao preço da fécula, 67,2% acreditam que deve aumentar um pouco, 14% que deve aumentar muito e 6,6% apontam que não haverá alteração.
O impacto negativo sobre a cadeia produtiva é consequência da redução da atividade industrial em praticamente todos os segmentos. Informações levantadas junto ao IBGE pelo CEPEA e a Embrapa mostram redução da produção física industrial. Lucílio e Estevão apresentaram aos associados da ABAM, na reunião da semana passada, exemplos de setores em que foram registradas queda de produção. São produtos que usam a fécula e o amido modificado de mandioca. Os dados do IBGE demonstram que a redução na produção industrial está ficando menor.
No setor de alimentos e bebidas elaboradas, principalmente ao consumo doméstico, a queda foi em torno de 20% em abril e 10% em junho; fabricação de produtos de carne (onde entram os embutidos que usam a fécula): queda de 17% em abril e 14% em maio.
Na tecelagem a redução foi de mais de 50% nos meses de abril e maio e o setor de papel, cartolina e papel-cartão queda de 5% em abril e 15% em maio.
Na moagem de trigo e fabricação de derivados, a queda foi de 6,5% em abril e 4% em maio.
Outra informação colhida junto ao IBGE refere-se a variação acumulada no ano em relação aos preços considerando o IPCA: farinha, fécula e massas teve uma variação de 4,96% entre janeiro e junho, já o pão de queijo acumulou um déficit de 0,13%.
AÇÕES PARA O SETOR – No questionário, os pesquisadores perguntaram quais ações deveriam ser adotadas pela iniciativa privada e pelo setor público para promover a retomada e o fortalecimento do setor. O levantamento mostrou que 25% dos entrevistados querem do setor privado novas práticas de comercialização, (com atenção especial à exportação) e outros 15% apontaram a elevação da mecanização (variedades adaptadas, plantio e colheita) como forma de desenvolver o setor. E 12,5% defenderam maior cooperativismo. Ainda foram citados, mas por um contingente menor, a melhora na remuneração ao produtor, elevação das parcerias e a adoção de novas formas contratuais entre produtor e indústria.
Do setor público o setor deseja a elevação da disponibilidade e acesso ao crédito (27,1%) e incentivo às compras institucionais (20,3%). Um contingente menor apontou revisão dos preços mínimos governamentais e ampliação da assistência técnica.