Conhecido como broca-da-raiz da cana-de-açúcar, broca-dos-rizomas ou congo, os besouros pertencentes à espécie Migdolus fryanus estão sendo encontrados em áreas produtoras de mandioca na região de Umuarama, noroeste do Paraná. A presença do inseto nas lavouras pode gerar queda na produção superior a 20% e seu manejo exige multiplicidade de técnicas e precisa ser acompanhando constantemente.
Segundo o professor Júlio César Guerreiro, da Universidade Estadual de Maringá (UEM) – Campus Umuarama, o congo na fase adulta possui entre 1,5 a 2,6 cm de comprimento, mas não são os causadores de danos nas raízes da mandioca. “As larvas dessa espécie ao se alimentarem das raízes de mandioca, ocasionam danos diretos que variam de simples raspagens da parte externa a perfurações profundas das raízes. As perfurações levam a danos indiretos, ocasionados pela entrada e desenvolvimento de organismos oportunistas como os fungos, que podem levar ao apodrecimento localizado das raízes”, explicou.
Na pesquisa realizada por Guerreiro, o consumo de raízes tuberosas por larvas do congo pode implicar em queda superior a 20% na produção, além de diminuir a qualidade do produto, com alterações na coloração e tamanho. O prejuízo com a raiz implica na queda da renda da mandioca ao produtor e para há indústrias um amido de qualidade inferior.
ENTENDA O CICLO – O professor do curso de Agronomia da UEM de Umuarama explica que o ciclo da praga inicia com a cópula na revoada dos machos adultos, que ocorre após as primeiras chuvas do mês de outubro. Depois do acasalamento, a fêmea penetra ao solo para pôr os ovos, que são depositados em números variáveis e em diferentes profundidades.
Conforme o pesquisador, em um curto período de incubação os ovos eclodem e as larvas tendem a se aprofundar no perfil do solo. “Dependendo da época do ano, a larva do besouro pode ser encontrada em grandes profundidades, há relatos de larvas encontradas a mais de quatro metros de profundidade no perfil do solo”, disse o professor.
Ainda segundo o especialista, nos períodos mais secos do ano, que geralmente coincidem com a presença de raízes totalmente desenvolvidas ou em processo de desenvolvimento, as larvas sobem no perfil do solo e iniciam sua alimentação nas raízes. “O tempo de permanência no solo varia de acordo com as condições climáticas, porém na média os insetos passam da fase de ovo a adulta em um período de um ano”, ressaltou.
INIMIGO SILENCIOSO – O congo tem baixa dispersão natural e a movimentação da espécie se dá pelo caminhamento das fêmeas na superfície do solo, pois não possuem asas verdadeiras, explicou Júlio César. “Dessa forma tendem a botar os ovos em áreas próximas ao local onde ocorreu as revoadas e cópula. Porém, mesmo com a baixa dispersão, essa praga tem migrado silenciosamente em várias regiões do Noroeste do Paraná e como sua ocorrência inicial é pouco percebida, há a tendência de atingirem novas áreas sem serem detectadas. Principalmente em regiões que possuem baixa intensidade de cultivo ou mesmo em locais temporariamente abandonados”, alertou.
CONTROLE DA PRAGA – Por se tratar de uma praga de solo e por ter comportamento de se movimentar no perfil atingindo grandes profundidades, além de hibernar conforme alterações climáticas e de desenvolvimento do inseto, a praga pode ser considerada de difícil controle.
“O método de controle químico, por sua baixa ação no solo e diminuta gama de opção para a cultura da mandioca, é praticamente ineficiente para o controle do congo. Muitos agricultores, na tentativa de controlar quimicamente a praga utilizam inseticidas não registrados para a mandioca e com métodos de aplicação pouco eficientes, causando o aumento da contaminação ambiental e do próprio agricultor”, advertiu Guerreiro.
Júlio César esclareceu que técnicas de controle devem ser utilizadas de forma conjunta visando o manejo racional da praga, com destaque para a necessidade de se fazer a movimentação do solo em reboleiras de ocorrência da praga, rotação de culturas e utilização de plantas antagonistas, que são pouco preferidas para o consumo pelo congo, como as espécies pertencentes ao gênero Crotalaria.
O método comportamental de controle, que atua através da atração de machos com a utilização de feromônios (“cheiro da fêmea sintetizado”), surge como alternativa técnica para o levantamento populacional e controle racional da praga.
“É importante destacar que a ocorrência desta praga em plantios de mandioca da região Noroeste do Paraná tem aumentado dia-a-dia, e que seu controle não se dá de forma imediata e milagrosa. Por mais que se utilizem produtos químicos, a eficiência desta técnica é questionável, principalmente pelo comportamento da praga”, comentou o professor da UEM.
DESAFIO – O manejo do besouro e larvas deve ser realizado de maneira contínua e constante, ano após ano, noticiou Júlio Guerreiro. “No entanto, essa sugestão tem sido pouco aplicável para produtores rurais que arrendam áreas já infestadas com a praga, para o plantio de mandioca. Dessa forma, é desafio crescente da pesquisa, extensão e dos agricultores o aumento da motivação para o controle do congo, mesmo com as dificuldades comportamentais da praga e contratuais devido à utilização temporária da terra”, finalizou. (Da edição on line do jornal Umuarama Ilustrado)