Do plantio direto, passando pelo manejo da cultura até o mercado de raiz, fécula e farinha. Estes temas foram discutidos no Seminário da Cultura da Mandioca realizado nesta terça-feira (15) no Parque de Exposições de Umuarama, durante a programação técnica da exposição agropecuária da cidade (Expo Umuarama). Grande número de produtores, agroindustriais e técnicos participaram do evento e fizeram diversos questionamentos aos palestrantes.
A organização do Seminário foi da Sociedade Rural e Prefeitura de Umuarama e da regional do IDR-Paraná, com o apoio da Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento (Seab), Copel, Sanepar, Sistema FAEP/Senar, Federação dos Trabalhadores Rurais (Fetaep), Unioeste, CEPEA e Associação Brasileira dos Produtores de Amido de Mandioca (ABAM). Diversas autoridades prestigiaram a abertura do evento.
O presidente da ABAM, que viabilizou duas das três palestras do Seminário, Valter de Moura Carloto parabenizou os organizadores do evento pela iniciativa. Lembrou que o objetivo da ABAM é promover o desenvolvimento da cultura da mandioca em toda sua cadeia.
Carloto disse que o “gargalo” do setor é a colheita que ainda não é mecanizada. E que a falta de uma colhedeira estimulou o setor a criar o Fundo de Desenvolvimento da Mandioca para o Centro Sul do Brasil (FDM CS Brasil), cujo principal objetivo é investir em pesquisa. A prioridade é desenvolver uma colhedeira “para acabar com este gargalo”.
O presidente da ABAM ainda citou que a mandioca é uma cultura resistente a estiagem, exige baixo investimento inicial e traz um alto retorno econômico. “Precisamos capacitar mais os produtores e trazer inovações para o setor”, defendeu ele.
PALESTRAS – Após a breve cerimônia de abertura tiveram início as palestras da tarde. O professor de Mecanização Agrícola da Unioeste, Emerson Fey, falou sobre o tema “Plantio Direto – Realidade e Desafios”. Na sequência o tema foi “Atualização no Manejo da Cultura da Mandioca” e foi discorrido pelo pesquisador Mário Takahashi, do IDR-Paraná; e “Mercado da Mandioca e Derivados: Contextualização e Desafios”, com o economista Fábio Isaías Felipe, do CEPEA.
Na sua palestra, Fey questionou se os produtores estão fazendo o manejo sustentável do solo e das águas. Apontou que o Sistema de Plantio Direto (SPD) da mandioca difere de outras culturas, como a da soja e o milho, por exemplo. Enquanto a soja em um mês está com as entrelinhas cobertas com sombra, na cultura de mandioca isto demora de quatro a cinco meses.
Lembrou ainda que o SPD é importante para evitar as voçorocas até mesmo no meio das lavouras, conforme fotografias que apresentou. Não basta só o terraceamento, é preciso fazer um manejo adequado e mais completo para reter a água.
O professor chamou a atenção para que o produtor use as variedades mais adequadas para o plantio direto e lamentou que ainda é baixa a adesão dos produtores ao sistema. Finalizou defendendo que os produtores conheçam mais a fundo o SPD e use variedades e plantadeiras adequadas.
BAIXA RENDA – Por sua vez, o pesquisador Mário Takahashi falou sobre variedade, renda (teor de amido) e adubação. Falou da variedade B36, que tem raízes curtas e ficam mais na superfície o que facilita a colheita.
Explicou que nesta época do ano é comum a queda na renda, mas que este ano foi agravada pelas condições climáticas. Lembrou que, enquanto a seca num período, o excesso de chuva no outro e especialmente as altas temperaturas praticamente dizimaram algumas culturas, a mandioca resistiu. “Não se perdeu tudo”, disse ele. Além disso, lembrou o ataque do mandarová, mosca branca e até a cochonilha, em algumas lavouras, que também contribuíram para derrubar o teor de amido.
Por fim o economista Fábio Felipe, do CEPEA, disse que o setor vive “um momento desafiador”, tendo que enfrentar várias adversidades. A mandioca, disse ele, está tendo o maior preço nominal em relação ao ano passado e 2020. A razão é a baixa oferta do produto no mercado, ocasionado pelas chuvas, e a redução do teor de amido e da produtividade de tonelada por alqueire. Apontou que para este ano o Paraná, maior produtor de mandioca do país para fins industriais, vai reduzir novamente a área plantada.
O técnico do CEPEA apontou que a inflação dos últimos meses, prejudicou o mercado d fécula, com a queda de consumo. Mas que, em contrapartida, houve um aquecimento nas exportações. Foram exportadas 40 mil toneladas de fécula, o maior resultado da história.
Felipe enfatizou que a produtividade industrial está baixa em razão da dificuldade de extração amido da raiz. “Ociosidade também representa custo”, disse ele, lembrando que o preço da mandioca subiu mais que o preço da fécula.
O pesquisador sublinhou que a cadeia produtiva da mandioca está vivendo o seu maior desafio dos últimos 20 anos. “Para onde vai esta cadeia?”, questionou ele. Isto porque está havendo uma redução na oferta da raiz, o teor de amido está em queda e os custos de produção estão aumentando, especialmente com as altas nos fertilizantes, do óleo diesel e do glifosato.
A previsão é de uma queda de 10% na produção de raiz e fécula de mandioca para este ano. E que a melhor alternativa que se apresenta no momento são as exportações, já que a fécula brasileira está com o preço competitivo no mercado internacional, a produção da Tailândia está comprometida com a China e o Brasil tem “a Europa e a América do norte para ser trabalhado”.